O primeiro-ministro Nikol Pashinyan, herói de uma revolução que prometeu tirar a Armênia da pobreza, é hoje, para muitos, o responsável por uma derrota militar humilhante contra o inimigo histórico - o Azerbaijão.
Na noite de segunda-feira, Pashinyan anunciou que foi obrigado a assinar um acordo de cessar-fogo no conflito pelo controle da região separatista de Nagorno-Karabakh, um acordo que consolida perdas territoriais significativas.
Em seis semanas, os combates que começaram em 27 de setembro e de grande ferocidade, surpreenderam o primeiro-ministro de 45 anos e transtornaram o mandato deste reformista voltado para a reativação econômica do país, para o combate à corrupção e para a pandemia do novo coronavírus.
Seus críticos, que invadiram a sede do governo e do Parlamento na madrugada desta terça-feira, agora o consideram um "traidor".
"Pashinyan está em uma posição muito ruim", observa um analista estrangeiro, estabelecido no país há anos e que não quis revelar sua identidade.
"Karabakh caiu, ou quase, o que o coloca em uma posição muito delicada. Terá que enfrentar uma pressão enorme, com grande potencial para desestabilizar o país", acrescenta.
- Propulsado ao poder -
A situação contrasta fortemente com a da primavera de 2018. Naquele momento, Nikol Pashinyan, um ex-jornalista e histórico opositor, foi catapultado ao poder em meio à euforia popular, ao fim de uma revolução pacífica contra as elites corruptas.
Pashinyan, que havia sido preso por seu papel em confrontos entre a polícia e os manifestantes da oposição em 2008 que mataram 10 pessoas, era considerado um homem do povo.
Em 2018, sete anos após sua libertação, manifestações em massa levaram à saída do então chefe de governo, Serge Sarkissian. E o partido do Contrato Civil de Pashinyan obteve uma vitória esmagadora nas eleições legislativas.
Amparado por esse sucesso, ele lançou uma cruzada anticorrupção e grandes reformas econômicas e tornou a vida difícil para oligarcas e monopólios. De fato, o primeiro-ministro acusou esses empresários de organizarem os protestos após o acordo de cessar-fogo em Nagorno-Karabakh.
Segundo analistas, as ações de Nikol Pashinyan contribuíram para acelerar o crescimento econômico neste pobre país do Cáucaso. Até que a epidemia de coronavírus interrompeu esse desenvolvimento.
- "Incrivelmente doloroso" -
A Armênia considera Nagorno-Karabakh - um enclave separatista de língua armênia no território do Azerbaijão - como um território histórico, que já foi palco nos anos 1990 de uma guerra que deixou 30.000 mortos.
Pashinyan, um homem carismático com um sorriso tímido, não participou da primeira guerra de Karabakh, mas nas últimas semanas ele assumiu o papel de chefe de guerra, com apelos vibrantes aos armênios para "se unirem" e derrotar o inimigo.
Mas o Azerbaijão, apoiado pela Turquia e armado com modernos equipamentos militares adquiridos graças aos seus petrodólares, infligiu-lhe uma pesada derrota.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, chegou a proclamar a "capitulação" de seu inimigo e chamou Pashinyan de "covarde", e os armênios, de "cães".
O primeiro-ministro considerou "incrivelmente doloroso" o cessar-fogo que teve de aceitar, correndo o risco de perder até mesmo todo o Nagorno-Karabakh, que sobrevive, mas enfraquecido. Assim como Pashinyan.
* AFP