A Rússia começou a enviar, nesta terça-feira (10), 2.000 soldados de manutenção da paz, após o acordo assinado por Armênia e Azerbaijão para acabar com semanas de combates violentos pelo controle de Nagorno Karabakh.
O acordo, que entrou em vigor às 21H00 GMT (18H00 de Brasília) de segunda-feira, foi assinado pelo presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, e o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, assim como pelo presidente russo, Vladimir Putin.
O acordo consagra as importantes vítorias militares do Azerbaijão nesta região montanhosa do Cáucaso, hoje habitada majoritariamente por armênios, e que se separou do Azerbaijão após uma guerra nos anos 1990.
O Exército do Azerbeijão e os separatistas apoiados pela Armênia estavam em confronto lá desde o final de setembro.
O anúncio do cessar-fogo provocou manifestações de alegria no Azerbaijão e protestos na Armênia, onde vários manifestantes invadiram durante a noite as sedes do governo e do Parlamento.
Em um comunicado publicado no Facebook, Pashinyan afirmou que assinar o acordo foi uma decisão "incrivelmente dolorosa para mim e para nosso povo", mas que teve que tomar a decisão depois de "analisar de maneira profunda a situação militar", em referência aos avanços do Azerbaijão na frente de batalha.
O presidente do Azerbaijão proclamou a "capitulação" do inimigo, apesar de não ter reconquistado a totalidade de Nagorno Karabakh.
Segundo Aliyev, o Azerbaijão retoma o controle dos distritos ao redor de Nagorno Karabakh, uma espécie de cordão de segurança criado pelos armênios em torno da república autoproclamada há 30 anos.
Os setores sob controle armênio estão mantidos, além de um corredor terrestre entre esses territórios e a Armênia, segundo Putin.
Os primeiros aviões Iliushin 76, com forças de manutenção de paz, decolaram da Rússia rumo a Karabakh, anunciou o ministério russo da Defesa. Moscou mobilizou 1.960 militares, 90 tanques e 380 veículos.
A presidência turca anunciou que participará nas "atividades de observação e controle (do cessar-fogo) junto com a Rússia, através de um centro conjunto que será estabelecido em um local escolhido pelo Azerbaijão.
Ancara que se posicionou a favor de Baku, elogiou as "importantes conquistas" do Azerbaijão contra a Armênia no enclave.
O Irã saudou o acordo, mas reiterou sua exigência de que "todos os combatentes estrangeiros" abandonem Nagorno Karabakh, região próxima de sua fronteira.
Os Estados Unidos se limitaram a indicar que observam o acordo e que esperam ver como será implementado no terreno, enquanto o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, se declarou "aliviado".
- "Traidor" -
Pouco depois do anúncio do acordo, milhares de manifestantes se reuniram diante da sede do governo armênio. Eles chamaram o primeiro-ministro Pashinyan de "traidor" e pedira sua renúncia.
Centenas de pessoas entraram no edifício, quebraram janelas e saquearam escritórios, especialmente a sala do conselho de ministros. O mesmo aconteceu na sede do Parlamento.
Nesta terça-feira, a polícia armênia recuperou o controle das duas instituições.
Uma derrota militar em Nagorno Karabakh pode ameaçar o futuro do primeiro-ministro armênio, que chegou ao poder após uma revolta popular em 2018. Antes do anúncio do acordo, 17 partidos de oposição pediram sua renúncia.
O patriarca da Igreja armênia fez um apelo por moderação e pediu que a população evite a violência e os distúrbios, enquanto as autoridades estabeleceram postos de controle na entrada de Yerevan - o governo teme que os combatentes, descontentes, retornem à frente de batalha.
No Azerbaijão, os habitantes comemoraram e muitos saíram às ruas, aos gritos de "Karabakh é Azerbaijão" ou "Estamos de volta".
- Conquista estratégica -
O acordo foi assinado depois que as forças azerbaijanas anunciaram, no domingo, a conquista de Shusha, uma cidade estratégica situada a 15 quilômetros da capital separatista, Stepanakert, localizada em um eixo vital que conecta a república autoproclamada com a Armênia.
Nesta terça-feira, o presidente de Nagorno Karabakh, Arayik Harutyunyan, admitiu que as forças armênias perderam a cidade no sábado.
O conflito deixou pelo menos 1.300 mortos desde 27 de setembro, de acordo com os balanços disponíveis, muito parciais.
* AFP