O candidato democrata à presidência americana, Joe Biden, apresentou-se nesta quarta-feira (12) pela primeira vez acompanhado de sua companheira de chapa, Kamala Harris, e prometeu "reconstruir os Estados Unidos", em uma tentativa de derrotar Donald Trump nas eleições de novembro.
O discurso, pronunciado em uma escola de Wilmington, Delaware, Estado onde Biden reside, representa um marco em sua campanha, na qual Kamala busca entrar para a História como a primeira mulher a se tornar vice-presidente dos Estados Unidos.
Biden citou a crise sanitária que o país enfrenta devido ao coronavírus, que já deixou mais de 164 mil mortos nos Estados Unidos.
— Temos uma crise de saúde pública — assinalou o democrata, que prometeu que seu governo irá arrumar "o desastre que o presidente Trump e seu vice criaram em casa e no exterior".
A questão da pandemia permeou todo o ato. A dupla entrou de máscara no local do discurso.
— Ela sabe o que está em jogo — afirmou Biden, que destacou a origem de Kamala, cujo pai é jamaicano e a mãe nasceu na Índia.
Na terça-feira, Biden - que lidera as pesquisas de opinião - pôs fim à espera ao anunciar que Kamala, senadora negra que representa a Califórnia, será sua companheira na disputa contra o presidente Donald Trump, uma decisão qualificada como histórica.
Antes de Kamala, duas mulheres concorreram à vice-presidência, Geraldine Ferraro em 1984 e Sarah Palin em 2008, mas nunca antes houve uma candidata dos partidos majoritários negra ou sul-asiática como Kamala.
Aos 55 anos, Kamala se encontra em uma posição privilegiada para a campanha de 2024, já que Biden, 77 anos, deu a entender que, se vencer, poderá não concorrer a um segundo mandato.
Testemunhas da História
A aparição desta quarta-feira antecede a Convenção Democrata que começa na próxima segunda-feira, onde Biden e Kamala serão formalmente ungidos como candidatos. No entanto, este evento não terá a pompa de outros anos, pois será em grande parte virtual devido à pandemia, que reduziu a campanha a uma série de aparições pontuais, sem os tradicionais comícios e quase sem deslocamentos.
A escolha de Kamala, um rosto conhecido que é uma aposta segura, tem o objetivo de incentivar o voto de comunidades negras que podem ser cruciais em vários Estados-chave para chegar à Casa Branca e que foram decisivos na campanha de Biden durante as primárias. Sua origem também pode atrair muitos eleitores, incluindo a comunidade latina.
— Estamos confiantes em que Kamala, como filha de imigrantes e com grande experiência no serviço público, é a líder certa para lutar por justiça social e econômica — destacou a organização latina Casa. Para a Liga dos Cidadãos Latinos dos Estados Unidos (Lulac), os EUA estão "testemunhando a história".
Com os protestos em massa contra o racismo após a morte de George Floyd, um negro americano assassinado por um policial branco em 25 de maio, aumentaram as expectativas de que Biden nomearia uma mulher afro-americana para acompanhá-lo.
— Estamos experimentando um ajuste de contas moral com o racismo e a injustiça sistêmica, que levou uma nova coalizão de consciência às ruas do nosso país exigindo mudança — assinalou Kamala em seu discurso.
Com a opção por Kamala, caracterizada por sua eloquência e estilo discursivo polido quando era procuradora e nas audiências como senadora, Biden obedeceu o principal critério na escolha de vice-presidente, que é "não gerar dano".
Oponente dos sonhos
Trump reagiu ao anúncio ontem chamando a senadora de "falsa" por seus confrontos com Biden durante as primárias e referindo-se ao seu "fraco" desempenho na disputa democrata, da qual Kamala desistiu em dezembro, antes do início da votação.
Nesta quarta-feira, Trump continuou a afirmar que Kamala "é o tipo de oponente dos sonhos". "Começou forte nas primárias democratas e terminou fraca, quase fugindo da corrida sem apoio", disse Trump no Twitter.
Kamala também poderia cobrir um flanco de gerações e gênero que poderá ser determinante em distritos suburbanos que se afastaram de Trump, de acordo com as pesquisas.
Por décadas, Biden representou as posições mais moderadas do Partido Democrata, enquanto Kamala representa linhas mais progressistas em questões como cobertura de saúde e política climática.