Relatório secreto vazado no último domingo (18) aponta que o Reino Unido enfrentará um colapso de três meses em seus portos se deixar a União Europeia (UE) sem um acordo. Os documentos também preveem atrasos para o fornecimento de remédios e a escassez de alimentos frescos, além do aumento de preços.
A saída do Reino Unido da UE está prevista para ocorrer no dia 31 de outubro.
O dossiê diz que até 85% dos caminhões que usam os principais canais de passagem "podem não estar prontos" para a alfândega francesa e correm o risco de enfrentar filas de dois dias e meio. Além disso, os suprimentos médicos ficarão “vulneráveis a atrasos severos”, já que três quartos dos medicamentos do Reino Unido entram no país através das principais travessias do Canal.
O governo também acredita que o retorno de uma fronteira controlada entre a Irlanda e a Irlanda do Norte seria provável, já que os planos atuais para evitar cheques generalizados seriam insustentáveis. No contexto do Brexit, nesse tipo de fronteira, há um número limitado de pontos de passagem autorizados, com funcionários da alfândega e da polícia ou até mesmo forças militares controlando quem entra e sai. Tarifas podem ser exigidas dos condutores.
Uma fonte sênior do Whitehall, centro administrativo do Reino Unido, disse ao Sunday Times que estes "são cenários prováveis, básicos e razoáveis, e não o pior caso".
O escritório do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, não comentou o registro do documento, mas fontes ligadas ao cargo confirmaram sua precisão, dizendo que ele foi preparado sob a administração da ex-premiê Theresa May e não refletiu o nível de planejamento que havia ocorrido sob Boris Johnson, novo ocupante do cargo.
— Este documento é de quando os ministros estavam bloqueando o que precisava ser feito para se preparar para sair e os fundos não estavam disponíveis. Ele foi deliberadamente vazado por um ex-ministro em uma tentativa de influenciar as discussões com os líderes da UE — disse uma das fontes.
— Aqueles que dificultam a preparação não estão mais no governo, 2 bilhões de euros de financiamento extra já foram disponibilizados e Whitehall tem se levantado para realmente fazer o trabalho através das reuniões ministeriais diárias. Toda a postura do governo mudou — acrescentou.
Os principais deputados pró-Brexit também rejeitaram as previsões feitas no documento. Dois ex-ministros do gabinete Tory, Iain Duncan Smith e Owen Paterson, afirmaram que o vazamento foi um exemplo de um plano para “semear o medo na mente das pessoas”.
O premiê Boris Johnson insiste que ainda quer que o Reino Unido saia com um acordo, mas ele exigiu um novo acordo com a UE sem o "backstop", mecanismo para impedir uma fronteira controlada na Irlanda que poderia manter a Grã-Bretanha em uma união aduaneira.
Ele deve visitar a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron antes de uma cúpula do G7 nesta semana para enfatizar suas exigências de concessões. No entanto, a UE está convencida de que o "backstop" deve ficar.
Com a probabilidade do Brexit sem acordo ocorrer, mais de de 100 deputados de todos os partidos políticos pediram a Johnson para enviar outro acordo ao Parlamento a fim de possibilitar o debate.
A oposição tem articulado para legislar contra um Brexit sem acordo. Eles também trabalham para, caso a estratégia falhe, Johnson seja derrubado e substituído por um governo interino. A estratégia de Johnson é culpar parlamentares por bloquearem o Brexit, antes de uma possível eleição geral.