Os devastadores incêndios na Amazônia e o aumento das tensões comerciais no mundo concentraram, neste sábado (24), as discussões no início do G7 de Biarritz, na França, uma cúpula sob clima tenso e de divisões.
O presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião do encontro, apelou a "uma mobilização de todas as potências" para ajudar o Brasil e os demais países afetados a lutar contra os incêndios florestais na Amazônia e para investir no reflorestamento das regiões atingidas.
– Devemos responder ao apelo da floresta (...) da Amazônia, nosso bem comum (...) então vão agir", pediu em um discurso televisionado, antes de receber seus colegas.
As negociações podem ser delicadas, depois que Macron acusou o presidente brasileiro Jair Bolsonaro de "mentir" sobre seus compromissos climáticos e de "inação" diante dos incêndios.
Suas críticas podem contrariar Donald Trump, de quem Jair Bolsonaro é um firme defensor no cenário internacional.
Berlim manifestou relutância ao anúncio de que Paris bloquearia o projeto de acordo comercial entre a UE e o Mercosul, um assunto que será abordado durante a reunião entre Angela Merkel e Emmanuel Macron à tarde.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse estar "relutante" em bloquear o acordo por causa dos incêndios, estimando que já existem problemas suficientes no comércio mundial.
– Acho eu seria relutante nesse momento tão difícil para o livre-comércio mundial – disse na cúpula do G7 em Biarritz. O Reino Unido, contudo, pretende deixar o bloco europeu em 31 de outubro, ficando de fora do acordo comercial.
Já o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, presente em Biarritz, reconheceu que seria "difícil imaginar" que a UE ratifique tal acordo enquanto o Brasil "permitir a destruição" da Amazônia.
Juntamente com o presidente americano, Angela Merkel, Boris Johnson, Giuseppe Conte, Shinzo Abe e Justin Trudeau marcarão o início da cúpula em um jantar informal organizado por Emmanuel Macron no farol de Biarritz com vista para o Atlântico.
Segundo a presidência francesa, os dois apresentaram "elementos de convergências" sobre as grandes questões a serem tradadas no G7, como comércio, o Irã e a Amazônia.
No final do almoço, Donald Trump tuitou: "Acabei de almoçar com o presidente francês @EmanuelMacrone", alguns minutos antes de se corrigir "@EmmanuelMacron". "Há muitas coisas boas acontecendo para nossos dois países. Grande final de semana com outros líderes mundiais", acrescentou.
Trump ameaça o vinho francês
Os milhares de diplomatas e jornalistas presentes em Biarritz aguardam para ver qual será a atitude do imprevisível presidente americano sobre outras questões.
Antes de voar para a França, Trump pareceu otimista. Mas o republicano brandiu a ameaça de retaliação à imposição de um imposto francês sobre os gigantes americanos do setor de alta tecnologia.
– Eu não gosto do que a França fez. Eu não quero que a França imponha impostos às nossas sociedades, é muito injusto. Se o fizerem, vamos impor tarifas sobre seus vinhos.
Donald Tusk reagiu, dizendo que a UE estava pronta para retaliar se Washington colocar sua ameaça em ação.
–As tensões comerciais são ruins para todos. – considerou Macron, enquanto o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pediu calma, dizendo estar "muito preocupado" com a guerra comercial sino-americana, que poderia afetar o Reino Unido e prejudicar a economia global.
Os debates se anunciam acirrados sobre a taxação dos gigantes digitais, o impulso à economia global ou as tensões comerciais entre Pequim e Washington, após a imposição de novas tarifas por ambos os lados.
Sobre o programa nuclear do Irã, outra questão espinhosa, Macron informará seus colegas do conteúdo de seu encontro com o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif.
Outro evento importante, o encontro no domingo entre Donald Trump e o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
A Casa Branca disse que Donald Trump está "muito animado" com a ideia de discutir com Boris Johnson o futuro acordo de livre comércio entre os dois países após o Brexit.
Diante da multiplicidade de temas, os organizadores franceses tentarão avançar questões substantivas que serão tema de sessões especiais: o combate à desigualdade, a educação na África ou a proteção dos oceanos.
Com a esperança de alcançar "iniciativas concretas", compartilhadas com os líderes convidados, como o indiano Narendra Modi ou seis chefes de Estado africanos.
Protestos
Os líderes do clube de potências industrializadas entrarão em cheio nos debates no domingo (25) em Biarritz.
Na noite deste sábado (24), os presidentes, acompanhados por suas esposas, se reuniram para um jantar informal em que o chefe basco, Cédric Béchade, preparou um menu a base de especialidades locais.
Antecipando as divisões, o presidente francês não quer publicar o tradicional comunicado final do G7, que já foi boicotado em 2018 no Canadá por Trump.
Os manifestantes anti-G7 se mobilizaram durante o dia nos arredores de Biarritz, totalmente cercada por 13.000 membros da polícia que bloqueiam o acesso ao centro da cidade. Cerca de 9.000 marcharam pacificamente do município francês de Hendaya para Irún, do lado espanhol.
Em Bayona, a 10 quilômetros de Biarritz, houve embates entre manifestantes e policiais, que usaram canhões de água e gases lacrimogêneos.
Na sexta-feira à noite, ocorreram os primeiros confrontos entre manifestantes e as forças de segurança em Urruña, perto do campo onde é realizada a cúpula alternativa ao G7. Os manifestantes jogaram projéteis na polícia, que usou gás lacrimogêneo e balas de borracha. Dezessete pessoas foram presas e quatro policiais ficaram levemente feridos.
* AFP