Um incêndio que começa no topo da Catedral, um teto que desmorona e uma flecha em colapso. É o que sabemos do violento incêndio que devastou na segunda-feira (15) a emblemática Catedral de Notre-Dame de Paris.
O fogo começou no teto
Na segunda-feira, às 18h20min no horário local (13h20 do horário de Brasília), um primeiro alerta foi recebido de Notre-Dame, "mas nenhum foco de incêndio foi encontrado", disse o promotor de Paris, Remy Heitz. Vinte minutos depois, as chamas foram detectadas no telhado, depois do recebimento de um segundo alerta.
— Eu não estava longe, vi a fumaça. No começo eu pensei que fosse o (hospital) Hotel-Dieu e depois eu entendi que era realmente a Catedral. Cheguei e as cinzas começaram a cair — diz Olivier de Chalus, guia voluntário do templo.
O fogo, cuja origem é desconhecida, começou no topo e se espalhou rapidamente para uma parte do telhado. As chamas devoraram a cobertura de madeira de mais de 100 metros conhecida como "floresta" devido ao "grande número de vigas necessárias para instalá-la, cada uma vindo de uma árvore".
Como a Catedral foi evacuada, não houve vítimas, exceto por um bombeiro que sofreu ferimentos leves.
Causas do incêndio ainda são desconhecidas
A procuradoria de Paris abriu uma investigação judicial por "destruição involuntária". Os investigadores privilegiam a pista de um início de incêndio acidental nas obras feitas no telhado da Catedral.
Cinco empresas trabalhavam nas obras de renovação. Os operários começaram a ser interrogados na noite de segunda-feira.
— Cerca de 50 investigadores estão mobilizados — disse o ministro do Interior.
Incêndio controlado
Após cerca de 15 horas de trabalhos, os bombeiros anunciaram na madrugada desta terça (16) que o incêndio estava "completamente controlado".
Cerca de 400 bombeiros com 18 mangueiras trabalharam para sufocar as chamas. A água era bombeada do rio Sena, localizado a uma dezena de metros do templo.
O uso de aviões para bombardear de água a Catedral, cogitado até mesmo pelo presidente norte-americano Donald Trump, foi considerado impossível: "O lançamento de água com um avião sobre este tipo de edifício poderá provocar o colapso do conjunto da estrutura", tuitou a Defesa Civil.
Segundo o secretário de Interior, Laurent Nuñez, a Catedral se salvou "por 25 minutos, ou meia hora".
Quais foram os danos?
Às 14h50 no horário de Brasília (17h50min em Paris) a flecha da Catedral, um dos símbolos da cidade, cuja extremidade estava 93 metros acima do solo, desmoronou. Em poucas horas, uma boa parte do teto do prédio foi reduzida a cinzas.
— Todo o telhado está danificado, toda a estrutura ficou destruída, uma parte da abóboda (cúpula) caiu, a flecha já não existe — resumiu nesta terça-feira o porta-voz dos bombeiros de Paris, Gabriel Plus.
A estrutura se mantém, mas foram identificadas "vulnerabilidades", em particular na cúpula do edifício.
Vários tesouros foram salvos das chamas, mas outros, que não puderam ser deslocados, estavam sendo monitorados pelos bombeiros. A coroa de espinhos e a túnica de São Luís foram ser resgatadas, indicou monsenhor Patrick Chauvet, o reitor da Catedral.
Anos de obras
Restaurar o edifício demandará "anos de obras", estimou o novo presidente da Conferência Episcopal Francesa, Eric de Moulins-Beaufort.
— Reconstruiremos a Catedral ainda mais bela e quero que esteja terminada em cinco anos — disse o presidente Emmanuel Macron nesta terça-feira.
Quanto já foi arrecadado
Doações de empresas e de milionários franceses começaram a chegar desde segunda-feira. Nesta terça, superavam os 700 milhões de euros (equivalente a R$ 3,5 bilhões).
A Lei do Mecenato da França permite que as empresas que doam para instituições artísticas descontem até 60% do valor do patrocínio do seu imposto de renda. Além disso, podem pagar o imposto devido para a cultura em até cinco anos. Quando a arrecadação é para "tesouros nacionais", como é o caso da Catedral, o desconto pode chegar a 90%.