A professora Priscila Luana Pereira, ex-companheira de Cesare Battisti, espera que as autoridades da Itália revejam a pena de prisão perpétua aplicada ao italiano – preso no sábado, na Bolívia, e que chegou nesta segunda-feira (14) ao seu país.
— Acredito que os defensores dos direitos humanos vão pedir a redução da pena. Cesare foi julgado à revelia e a sentença é muito dura — disse ela ao jornal O Estado de S. Paulo, no domingo (13), pouco depois de saber que o avião que levaria Battisti de volta à Itália havia decolado de Santa Cruz de La Sierra.
Priscila mora em São José do Rio Preto (SP) com o filho do casal, de cinco anos, mas recebeu a notícia da prisão de Battisti em Cananeia (SP), onde o italiano tem uma casa. Ela disse temer pela vida do ex-companheiro na cadeia.
— Cesare já tem alguma idade e problemas de saúde como hepatite, precisa tomar medicamento. Os próximos passos são para garantir que ele não fique em condições insalubres — afirmou.
Segundo Priscila, Battisti ainda tem família na Itália (um irmão e sobrinhos), duas filhas e um neto na França além de uma rede de advogados e colaboradores espalhada pela Europa.
Priscila disse não entender o motivo de o governo Jair Bolsonaro ter enviado um avião para a Bolívia depois da detenção.
— A partir do momento que ele saiu do Brasil o assunto é da Bolívia coma Itália — afirmou.
Embora não tenha contato com Battisti desde o ano passado, Priscila foi alvo de ações da Polícia Federal.
— Fizeram buscas na minha casa e no local onde morava anteriormente — disse ela.
Segundo a professora, o filho do casal, apesar da pouca idade, tem sentido efeitos da situação.
— Ele não entende completamente o que está acontecendo, mas sente falta do pai, pergunta por que nós estamos aqui e ele não.
Asilo
Três dias depois de o ex-presidente Michel Temer assinar o decreto de extradição de Cesare Battisti, o italiano encaminhou um pedido de asilo ao governo do presidente da Bolívia, Evo Morales. Battisti apresentou uma solicitação de refúgio à Comissão Nacional do Refugiado (Conare) no dia 18 de dezembro do ano passado, quando já era considerado foragido internacional. No documento, o italiano afirma que a "nefasta coincidência" da chegada ao poder de dois governos de "ultradireita" no Brasil e na Itália o obrigou a fugir para a Bolívia.
Ele cita na carta o presidente Jair Bolsonaro. "Poucos dias depois de seu triunfo eleitoral, Bolsonaro prometeu publicamente que realizará todos os esforços para me extraditar", escreveu Battisti às autoridades bolivianas.
No texto de quatro páginas, ele cita também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - atualmente preso e condenado na Operação Lava-Jato -, que lhe concedeu refúgio no fim de 2010. "O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (depois de ter a certeza de que minha pessoa não era aquele monstro que o governo italiano tentava construir, com um pedido de extradição absurdo) me concedeu residência permanente", escreveu Battisti.
O italiano afirmou também que se "distanciou" de atividades violentas por parte de grupos de esquerda nos anos 1970. Battisti também alega que centenas de processos foram criados na época para justificar a prisão de militantes, entre eles o que baseou sua pena perpétua.
No domingo, antes de Battisti ser enviado para a Itália, amigos no Brasil fizeram uma última tentativa de evitar a extradição e endereçaram uma carta endereçada ao vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, pedindo que o governo Evo Morales concedesse refúgio político ao italiano.
A carta foi assinada pelo historiador argentino radicado no Brasil Carlos Lungarzo, autor de um livro sobre o italiano e amigo pessoal de Battisti. "É essencial ter em mente que se Battisti for devolvido ao Brasil ou entregue à Itália terá uma morte terrível e muito triste. Pedimos que Cesare Battisti tenha refúgio político na Bolívia", diz trecho da carta.
O texto foi endereçado a Linera por causa da similaridades entre a história do vice-presidente da Bolívia e a do italiano. Ex-integrante do movimento armado Exército Guerrilheiro Túpac Katari (EGTK), Linera ficou preso entre 1992 e 1997.