O presidente venezuelano Nicolás Maduro prestou juramento nesta quinta-feira (10) ao tomar posse para um segundo mandato de seis anos, desafiando os Estados Unidos e grande parte da comunidade internacional, que ameaça aumentar a pressão sobre um governo considerado por muitos países ilegítimo. Ao receber a faixa presidencial do presidente da Suprema Corte de Justiça, Maduro acusou a oposição ao seu governo de influenciar a "direita latino-americana" e citou nominalmente o presidente Jair Bolsonaro, a quem classificou de "fascista".
— Vamos ver o caso do Brasil e o surgimento de um fascista como o presidente Jair Bolsonaro — declarou, ao denunciar o que chamou de onda de "intolerância" entre os governos de direita que se impuseram na América Latina.
Maduro, que em várias ocasiões denunciou os planos de Washington de derrubá-lo ou mesmo de assassiná-lo, disse que os Estados Unidos estão promovendo uma "guerra mundial" contra a Venezuela com o apoio de governos aliados no hemisfério.
Em discurso, Maduro prometeu combater a corrupção e fazer "uma revolução moral" no país. Para Maduro, a luta contra a corrupção é de toda a sociedade venezuelana, que sofre as consequências dos desvios e da desonestidade.
— Esta não é uma luta de Maduro, é uma luta moral de toda a sociedade. Esta luta implica mudança cultural de toda a sociedade — afirmou. — Temos um inimigo a vencer: a corrupção.
Maduro disse que, no segundo mandato, pretende fazer da Venezuela um lugar melhor para viver, capaz de atrair investidores do mundo inteiro.
— Não podemos falhar e não falharemos. Juro por minha vida — afirmou.
Pressão internacional
Coincidindo com a posse, duas horas depois, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou uma resolução para declarar ilegítimo o segundo mandato de Maduro. A resolução, aprovada por 19 votos a favor, seis contra, oito abstenções e uma ausência, declara a "ilegitimidade do novo mandato de Nicolás Maduro que se iniciou em 10 de janeiro".
A medida é um chamado à "realização de novas eleições presidenciais com todas as garantias necessárias para um processo livre, justo, transparente e legítimo", estipula a resolução. Entre os países que votaram a favor estão Argentina, Estados Unidos, Colômbia, Chile, Equador, Canadá e Brasil. Venezuela, Nicarágua, Bolívia e alguns países caribenhos votaram contra, e entre os países que se abstiveram, o México.
Diante da pressão internacional, Maduro propôs uma cúpula de líderes da América Latina e do Caribe para discutir o tema "face a face".
— Eu propus em várias ocasiões a convocação desta cúpula para discutir com uma agenda aberta todas as questões a serem discutidas, face a face (...) Ratifico hoje a minha proposta, lanço o desafio! — clamou Maduro em seu discurso perante o Supremo Tribunal de Justiça.
— Quero ver o rosto de Iván Duque (presidente colombiano e crítico de Maduro) e vê-lo falar sobre a Venezuela (...) acho que eles têm medo de nós — acrescentou.
A União Europeia, os Estados Unidos e o Grupo de Lima — formado por 14 países, incluindo o Brasil — ignoraram a reeleição de Maduro nas eleições de 20 de maio, promovidos pela Assembleia Constituinte no poder e boicotadas pela oposição, que as considerou uma fraude.
A UE e o Grupo de Lima — à exceção do México — não enviaram representantes para a cerimônia, que contou com a presença dos presidentes de Bolívia, Cuba, El Salvador e Nicarágua, além de delegados de outros países aliados, como China, Rússia e Turquia.
Hoje, a UE lamentou que Maduro não tenha dado ouvidos aos apelos da comunidade internacional, e ameaçou adotar "medidas apropriadas" em caso de novas violações aos direitos humanos no país.
— O presidente Maduro inicia hoje um novo mandato baseado em eleições não democráticas — denunciou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, lamentando que as eleições "não foram nem livres, nem equilibradas e os resultados não têm credibilidade".
Por sua vez, os Estados Unidos se negaram a reconhecer a legitimidade do governo de Nicolás Maduro e prometeram aumentar a pressão sobre o presidente venezuelano, de acordo com o assessor de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton.
"Os Estados Unidos não reconhecem a posse ilegítima da ditadura de Maduro. Continuaremos aumentando a pressão sobre o regime corrupto, apoiando a democrática Assembleia Nacional (Parlamento) e cobrando democracia e liberdade na Venezuela", escreveu Bolton no Twitter.
Adotando uma postura ainda mais agressiva, o Paraguai rompeu relações com a Venezuela.
Crise humanitária
Sucessor de Hugo Chávez — morto em 2013, Maduro chega ao segundo mandato em meio a uma forte crise econômica, com registros de hiperinflação e desabastecimento de alimentos e combustíveis, e humanitária no país. Contingentes de venezuelanos têm seguido para os países vizinhos, fugindo do desemprego e da fome.
Maduro foi eleito em maio do ano passado, com 67% dos votos válidos, mas o pleito foi marcado por denúncias de fraude e por uma abstenção de 54%.
O presidente venezuelano rebate as acusações, dizendo que as disposições constitucionais foram cumpridas e que seu mandato é legítimo.
— Estou de pé para democraticamente tomar as rédeas de nosso país em direção a um destino melhor — afirmou. — Aqui estou, assumindo a Presidência da República para o segundo período, por ordem do povo.