Vladimir Putin foi reeleito, no domingo (18), presidente da Rússia, com 76,7% dos votos. A vitória esmagadora reforça a posição dele na crise com os países ocidentais e garante a permanência no poder até 2024.
Putin está à frente da Rússia desde 1999, como presidente ou como primeiro-ministro. Em 2024, quando deixará o cargo, o presidente russo completará 72 anos. Ao ser questionado se voltaria a disputar eleições, ele respondeu:
— Ficar aqui até 100 anos? Não.
O candidato do Partido Comunista, Pavel Grudinin, recebeu 11,79% dos votos, o ultranacionalista Vladimir Zhirinovski, 5,66%, e a jornalista vinculada à oposição liberal Ksenia Sobtchak, 1,67%.
A oposição, contudo, denuncia irregularidades no pleito, como urnas preenchidas com antecedência e o transporte de trabalhadores em ônibus até locais de votação.
Tensão com o Ocidente
A Rússia voltou ao centro do cenário internacional em razão da tensão com os países ocidentais, algo que não era registrado desde o fim da Guerra Fria. O conflito na Síria, a crise ucraniana e as acusações de interferência russa na eleição do presidente presidente americano, Donald Trump, alimentam o confronto Leste-Oeste, que aumentou, na última semana, quando Londres acusou Moscou de ter envenenado um ex-espião russo no Reino Unido.
No domingo, na primeira entrevista coletiva após a vitória, Putin afirmou que acusar a Rússia no caso do ex-espião Serguei Skripal não faz sentido, mas acrescentou que Moscou está "disposto a cooperar" com Londres na investigação.
Crise e favorecimento
Para alguns analistas, a crise, que provocou a expulsão recíproca de diplomatas, fortaleceu Putin, cuja popularidade é cada vez mais baseada na política externa.
— Temos de agradecer ao Reino Unido porque, mais uma vez, não entenderam a maneira de pensar russa. Mais uma vez, nos pressionaram justamente no momento em que precisávamos de mobilização — disse Andrey Kondrashov, porta-voz da campanha de Putin, citado pelo jornal Kommersant.
O presidente chinês, Xi Jinping, felicitou Putin e afirmou que a relação entre os dois países está em seu melhor momento. O venezuelano, Nicolás Maduro, e o boliviano, Evo Morales, também enviaram parabéns.
A Alemanha foi o primeiro país europeu a falar sobre o resultado e, segundo o ministro das Relações Exteriores do país, Heiko Mass, a Rússia continuará sendo um "sócio difícil", mas necessário, após a reeleição de Putin.
— Precisamos da Rússia para encontrar soluções aos grandes problemas internacionais e, por isto, queremos continuar o diálogo — declarou Maas.
Irregularidades na votação
A oposição russa, liderada pelo principal rival de Putin, Alexei Navalny — impedido de disputar eleições até 2028 por condenação judicial —, acusa as autoridades de falsificar o índice de participação recorrendo a fraudes, como o preenchimento de urnas e organização de transporte de eleitores.
— A vitória de Putin com mais de 70% (de votos) foi decidida de antemão — disse Navalny à imprensa.
A ONG Golos, especializada em supervisionar eleições, disponibilizou um mapa das fraudes em seu site na internet, no qual denuncia mais de 2,9 mil irregularidades.
Edward Snowden, ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, refugiado na Rússia desde suas revelações sobre o sistema de vigilância dos Estados Unidos, divulgou no Twitter um vídeo em que mostra o que considera o preenchimento de uma urna.
"Exijam justiça. Exijam leis e tribunais que façam sentido", escreveu.
A presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova, considerou, no entanto, que as irregularidades foram "relativamente baixas" e acrescentou que a votação foi transparente.