A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, deu a Vladimir Putin o champanhe com o qual ele irá celebrar sua consagração na eleição de domingo. O anúncio da expulsão de 23 diplomatas russos por conta do caso do agente duplo envenenado é tudo o que o chefe do Kremlin queria a quatro dias do pleito que lhe garantirá mais seis anos de mandato – se ficar até o final, em 2024, completará 25 anos no poder, entre cargos de primeiro-ministro e presidente.
Enquanto desdenha das exigências britânicas por explicações sobre a situação do ex-espião e de sua filha e silencia diante de ameaças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Putin, em sua lógica maquiavélica, consolida seu discurso interno de uma suposta conspiração ocidental para tirar a Rússia do caminho inescapável de ser grande de novo. Trata-se do velho truque de usar a ameaça externa para amalgamar a torcida interna. Dá certo na Venezuela chavista-madurista, funciona nos EUA de Donald Trump e não será diferente na Rússia do neoczar. Putin ganharia a eleição mesmo se dispensasse o discurso do inimigo externo. Agora, conquista a vitória, antes mesmo de as urnas serem abertas, sobre a oposição calada e apequenada.
Novichok, substância que envenenou Sergei Skripal e a filha Yulia, pode ser considerada uma arma química utilizada em território britânico. Nesse sentido, a se confirmarem as suspeitas de que o Kremlin estaria por trás do ataque, a crise é muito grave.
Além de expulsar os funcionários russos, May suspendeu todos os contatos diplomáticos do mais alto nível com Moscou e cancelou a visita a Londres de Sergey Lavrov, o ministro de Relações Exteriores de Putin. A Casa Real afirmou que nenhum de seus membros irá à Copa do Mundo, em junho e julho.
E tudo pode ficar pior com o poder de veto russo, capaz de tornar inócua qualquer ação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).