Em meio à mobilização nacional para ajudar o Rio Grande do Sul, criminosos se aproveitam para tirar vantagem. Golpistas estão vendendo doações, criando vaquinhas falsas e usando até inteligência artificial para enganar vítimas, conforme revelou reportagem veiculada no Fantástico, na TV Globo, na noite de domingo (26).
Em um vídeo, a voz e a imagem do empresário Luciano Hang foram manipuladas para tirar dinheiro das pessoas. Na publicação, o dono da Havan aparecoa anunciando a venda de todo estoque de ar-condicionado por apenas R$ 149. O dinheiro arrecadado com as vendas seria doado para ajudar as vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul. Mas, quem comprou nunca recebeu.
Outro vídeo nas redes sociais prometia:
"Vamos doar produtos de nossa loja que sofreram alguma avaria e não podem mais ser vendidos". Mas, na verdade, eram manipulações de inteligência artificial.
— Utilizam a minha imagem, a imagem da nossa empresa, com inteligência artificial: a voz é minha, mas é tudo falso. Ou seja, as pessoas precisam, quando virem uma oferta muito boa, checar no site oficial da empresa ou da pessoa, e lá bater se aquela informação realmente é válida — afirmou Luciano Hang.
Segundo o empresário, mais de 5 mil consumidores que acreditaram nos anúncios falsos deram queixa nos últimos 20 dias. Hang diz que a empresa já identificou 600 sites falsos.
Falsas vaquinhas virtuais
Na última sexta-feira (24), policiais civis do RS cumpriram mandados em uma cobertura, alugada por R$ 30 mil, em Balneário Camboriú, Santa Catarina. O alvo principal era um adolescente de 16 anos. Ele não foi apreendido.
As investigações apontam que ele criava vaquinhas virtuais, supostamente para beneficiar os afetados pela chuva no Estado, mas o dinheiro era desviado para a conta dele. O adolescente e outras duas pessoas vão ser investigados por estelionato e lavagem de dinheiro.
— O nosso investigado refere que há uma movimentação tranquila de R$ 2 milhões por dia vinculado a esses golpes em todo o Brasil — afirmou Eibert Moreira, da Divisão de Investigação Criminal do Deic.
A polícia diz que ele também gerenciava sites falsos, que ofereciam produtos com valores abaixo do mercado. Porém, os itens nunca eram entregues aos consumidores. Além
Desvio e venda de água
Em Porto Alegre, um morador flagrou um caminhão-pipa, pertencente à empresa Desentupidora Peres Ltda, que retirava água de um hidrante do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae). De acordo com o Ministério Público, estaria desviando a carga para vender a condomínios.
— Tivemos acessos às notas fiscais. Era a água do próprio Dmae e a cobrança de valor de R$ 4 mil de um condomínio por uma carga de 10 mil litros de água — disse o promotor de Defesa do Consumidor, Alcindo Bastos da Silva Filho.
Segundo o Ministério Público (MP) e o Procon, antes das enchentes, a empresa cobrava R$ 2 mil por um caminhão-pipa.
— Já está sendo instaurado o inquérito policial por furto qualificado, inclusive agravado pela situação de calamidade pública que nós estamos passando. E depois será apurada a lucratividade indevida que essa empresa obteve — ressaltou o promotor.
Em Canoas, um homem foi flagrado negociando a venda de águas doadas às vítimas das enchentes. Ele foi identificado como Guilherme Ferreira de Souza, 47 anos.
Contraponto
Em nota, a empresa Desentupidora Peres Ltda diz que tinha autorização para retirar água dos hidrantes, mas a prefeitura de Porto Alegre nega e afirma ter liberado apenas o transporte da água sem custo a hospitais.
Procurado, Guilherme Ferreira de Souza, que estava vendendo águas doadas, confessou o crime e ainda derrubou a câmera durante a reportagem do Fantástico.