Maila Aparecida Wagner, 20 anos, vivia em Estrela Velha, no Vale do Rio Pardo, com os pais e as duas irmãs. Na mesma região, Heide Juçara Priebe, 63, dividia a casa num condomínio de Santa Cruz do Sul com um dos três filhos. Teresinha Maria Sost, 39, estava empolgada com a nova vida ao lado da filha mais velha.
Essas três mulheres estão entre as 107 vítimas de feminicídio no ano passado no Rio Grande do Sul. Diferente da maioria, elas pediram ajuda após sofrerem violência doméstica. Chegaram a obter medida protetiva de urgência, mas a proteção legal não foi suficiente para mantê-las a salvo de seus agressores.
Nesse levantamento exclusivo, buscamos entender o que falhou para que essas mulheres se tornassem vítimas do crime que temiam. Descobrimos, por exemplo, que 17 dessas 21 mulheres relataram estar com medo de serem mortas e 19 afirmaram terem sido ameaçadas antes da data do crime. Onze delas foram assassinadas a tiros e cinco tinham notificado a existência da arma de fogo.
Para entender as histórias dessas vítimas, ouvimos os familiares delas. No dia 14 de maio, estivemos em Santa Cruz do Sul onde acompanhamos o primeiro Dia das Mães de Franklin Fetzer, 40, sem Heide. No mesmo dia, seguimos até Estrela Velha, onde encontramos Marisane Wagner, 40, e Cláudio Wagner, 49, pais de Maila, e as duas irmãs dela, Maira e a Maika. Por último, rumamos até Alecrim, na fronteira com a Argentina, onde vive Micheli Sost, 21, a filha de Teresinha.