
A reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) encontrou, nesta quarta-feira (7), mais casos de desperdício de recursos públicos na educação de Porto Alegre. Em uma escola da zona norte da Capital, caixas com livros de português e matemática ocupam uma sala que era planejada para se transformar em uma brinquedoteca. São 2,6 mil exemplares da coleção Aprender Mais, comprada pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) ano passado e enviada para as escolas da rede. O colégio já tinha recebido e entregue aos alunos os livros didáticos enviados pelo FNDE, do governo federal.
— Desde o ano passado, eles (Smed) vêm enviando materiais que chegam à escola sem um aviso prévio e sem a solicitação da direção, nem do grupo de professores. Os livros que nós temos aqui hoje, eles têm um conteúdo semelhante aos livros que o governo federal já envia para as escolas. A gente já recebeu para todos os alunos o quantitativo suficiente do governo federal e aí a prefeitura nos surpreendeu enviando materiais com o mesmo conteúdo para todos os alunos da escola. Então, é um material que, de certa forma, está em duplicidade, excedente. O dinheiro poderia ter sido investido em outros materiais mais necessários para a escola — disse a professora, que preferiu não se identificar.
A Smed afirmou que os livros de português e matemática são de reforço pedagógico, com objetivo de preparar os alunos para as provas de avaliação externa.
A sala usada de depósito ainda acumula carrinhos utilizados para carregar os chromebooks, os racks. A instituição recebeu pelo menos uma dezenas de racks além da sua demanda. Por isso, os equipamentos estão parados. Enquanto isso, em outras escolas, os racks foram mandados em quantidade insuficiente, o que leva centenas de chromebooks a ficarem sem uso.
— É uma frustração para a gente que está aqui na ponta, atendendo os alunos e que tem noção da realidade das necessidades deles. Eu me sinto desrespeitada enquanto cidadã, enquanto gestora de uma escola municipal aqui da rede porque, em momento algum, a gente foi ouvido sobre quais as demandas preferenciais da gente, dos professores. Poderia ter sido feito uma consulta com as próprias famílias, com os alunos, com os professores, com a comunidade de forma geral, para saber quais eram as prioridades de cada escola — lamentou a professora.
Uma série de reportagens do GDI está mostrando desde terça-feira (6) o desperdício de recursos públicos na educação, com a compra de livros e equipamentos que estão em desuso em escolas e galpões da Smed. Nesta quarta-feira, a ouvidoria do Tribunal de Contas do Estado solicitou que os casos de desperdício sejam apurados.