Além de ter 93,14% de participação do consórcio FrotaPOA, a Alstom ganhou a concorrência para o contrato de manutenção preventiva dos 15 novos trens da Trensurb. Assim, a mesma empresa que fabricou as composições que estragam a toda hora é remunerada para consertá-los. O contrato, de cinco anos, é de R$ 5,9 milhões.
Desse valor, a Trensurb já quitou R$ 1,2 milhão, cerca de 20% do total, com pagamentos feitos até março deste ano. A outra participante do consórcio, a CAF, é a atual responsável pela manutenção dos trens da série 100, os 25 trens que operam há 33 anos.
— Essa situação deles estarem recebendo como prestadores de serviço na manutenção, ao mesmo tempo em que consertam os veículos que não funcionam, é complicada. Toda essa postergação em consertar os trens comprometeu a gestão da Trensurb. Não tenho dúvida nenhuma de que a Trensurb poderia ter cobrado mais o consórcio e não cobrou — avalia Celso Três, procurador da República.
Na avaliação do consultor Peter Alouche, que atuou no Metrô de São Paulo por mais de três décadas, faltou rigor e comunicação entre a Trensurb e o consórcio:
— No Metrô de São Paulo, isso seria inconcebível. É claro que ocorre falta de diálogo entre o fornecedor e a Trensurb. Além disso, sem o envolvimento da Trensurb nos detalhes de cada problema, também não é possível verificar a qualidade e eficácia de eventuais soluções apresentadas pelo fornecedor — argumenta o especialista.
Escolhidos pela eficiência energética, gastam mais parados
Em 4 de abril, os trens da Série 200 (a nova) em funcionamento eram os de numeração 229, 230, 231 e 237. Em 22 de abril, quatro ainda estavam circulando, mas o 230 havia sido trocado pelo 228 pois apresentou calombos nas rodas e precisou ser retirado de circulação. Um imprevisto, já que, pelo último cronograma de retorno escalonado dos trens apresentado pelo próprio consórcio ao Ministério Público Federal (MPF), cinco trens deveriam estar em funcionamento até 20 de abril:
— Trem parado é trem em deterioração. E quando se constata que um trem tão caro está parado, se percebe que este foi um negócio muito ruim — afirma Alouche.
Para manter o sistema e não comprometer a bateria, a Trensurb determinou que a cada três dias os trens sejam energizados.
A inoperância da frota também resultou em prejuízo de gastos com energia elétrica para a Trensurb, enquanto os trens prometiam exatamente o contrário. Os sistemas de tração dos trens da Série 200 trabalham com a regeneração energética. Essa tecnologia permite que a energia produzida nas frenagens seja recuperada e injetada na rede para a utilização de outros trens. Mais econômicos, deveriam consumir menos energia de tração _ em torno de 30% a 40%. Porém, segundo a Trensurb, os gastos adicionais com energia elétrica em decorrência da não circulação dos trens série 200, de abril de 2016 a fevereiro de 2018, são calculados em R$ 4,6 milhões.