A Polícia Federal (PF) investiga pelo menos 120 pessoas suspeitas de terem sido beneficiadas desde 2013 com R$ 5,8 milhões oriundos de bolsas de estudo irregulares pagas por meio de programas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Entre os falsos alunos há, por exemplo, pessoas sem curso superior ou apenas com ensino fundamental completo, marido de funcionária, namorada de sobrinho de servidora. Na sexta-feira, policiais federais deflagraram a Operação PhD e prenderam seis suspeitos de envolvimento nas fraudes.
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Investigadores acreditam que o valor total das fraudes é bem superior ao já apurado até o momento, em função da quantidade de pessoas, órgãos e entidades envolvidos e recebendo recursos irregularmente. São investigados 20 projetos com valor total de R$ 99 milhões.
Com a deflagração da operação, a PF recebeu dezenas de novas denúncias citando irregularidades na concessão de bolsas, segundo informou o delegado Aldronei Pacheco Rodrigues, responsável pela investigação.
O foco da investigação da PF foram os programas de Educação em Saúde Coletiva (PESC) e o de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGCol) da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O principal suspeito de articular as fraudes é o professor Ricardo Burg Ceccim, que foi preso.
A Escola de Enfermagem não se manifestou desde a deflagração da operação, na sexta-feira, mas integrantes da direção serão chamados a depor na PF na próxima semana.
Uma das suspeitas presas, Marisa Behn Rolim, que é secretária do PPGCol e também bolsista, tem, pelo menos, 15 familiares ou amigos recebendo o benefício, entre os quais uma prima, dois irmãos e amigos da igreja que frequenta. Além disso, obteve emprego para a filha, Priscila Behn Rolim Coronet, também presa, e facilitou contratações para prestação de serviço de um filho.
A filha de Marisa, Priscila, foi contratada de forma irregular pela Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs) e presta serviços ligados aos projetos sob coordenação do professor Ceccim. Entre as funções, tinha autonomia para distribuir bolsas, conforme a investigação. E um dos beneficiados foi o marido, que é funcionário da Corsan e sequer frequenta as dependências da universidade.
Já a prima de Marisa, que é servidora da UFRGS, além de receber o benefício, obteve bolsa de mestrado para um filho e, todos os meses, segundo a PF, devolvia um percentual delas para a prima Marisa. Além disso, conseguiu emprego para uma nora em função administrativa. Em todos os casos, a PF comprovou que havia devoluções, sempre dirigidas aos responsáveis pela gestão dos programas na Escola de Enfermagem, especialmente, o professor Ceccim.
O depoimento de Ceccim à PF deve ocorrer na manhã deste sábado. Segundo apuração, Ceccim estava com viagem marcada para a Itália na próxima semana.
A investigação da PF começou em 2015, depois de Zero Hora publicar a série de reportagens "Universidades S.A.". A série mostrou na matéria "Mestrado sem Frequência" a suspeita de que o servidor do Ministério da Saúde Hêider Aurélio Pinto ganhara tíitulo de mestre sem frequentar as aulas em Porto Alegre. Hêider também é investigado e, na sexta-feira, foi alvo de condução coercitiva para depor na PF. Quando obteve o título de mestre, Hêider era secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, pasta que gerencia o Programa Mais Médicos.
Também foram presos na Operação PhD Sergio Nicolaiewsky, ex-vice reitor da UFRGS e atual diretor-presidente da Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs), o professor Alcindo Ferla, que também atua na Escola de Enfermagem da UFRGS, e a professora Simone Chaves, da Unisinos.
Contrapontos
O que diz Paulo Magalhães Filho, advogado da Faurgs
A Faurgs está sendo absolutamente colaborativa e, assim que tomar ciência do conteúdo total da investigação, vai se posicionar.
O que diz André Callegari, advogado do Sergio Nicolaiewsky, ex-vice reitor da UFRGS e atual diretor-presidente da Faurgs
Ainda não tivemos acesso ao material apreendido. Mesmo ssim, ele (Sergio) está prestando esclarecimentos de boa fé. Na condição de presidente da Faurgs, ele só dirige a entidade, mas os projetos são de responsabilidade dos respectivos coordenadores, que têm autonomia para trabalhar. Existe um princípio da confiança. Se presume que os coordenadores estão fazendo o correto dentro daquilo que está sendo executado. Como a prisão dele é temporária, vou aguardar o depoimento para ver se vão liberá-lo ou não. Se não houver isso, entraremos com pedido de liberdade.
O que diz a UFRGS
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi surpreendida nesta sexta-feira, dia 9, com a notícia sobre operação desencadeada pela Polícia Federal relacionada a fraudes no Programa de Extensão em Saúde Coletiva – Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva. Diante disto, cumpre-nos informar: as denúncias ora veiculadas restringem-se unicamente aos programas citados; a UFRGS, até o presente momento, não foi procurada por nenhuma instância para tratar sobre o assunto; acompanha com muita atenção os desdobramentos das investigações; coloca-se à disposição para auxiliar em todos os esclarecimentos que se fizerem necessários para a elucidação dos fatos.
O que diz a Escola de Enfermagem
A diretoria do curso estava ainda não se manifestou.
O que diz Karla Sampaio, advogada de Ricardo Ceccim, um dos coordenadores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGCol) da Escola de Enfermagem, e de Alcindo Ferla, que atua na Escola de Enfermagem da UFRGS
Estamos tranquilos em relação às acusações. Nada do que foi noticiado se verifica. Não tive acesso aos autos nem à investigação, mas pelo que conversamos não há procedência. Acredito que eles serão liberados no fim de semana, pois se trata de prisão preventiva de cinco dias.
O que diz a professora da Unisinos Simone Chaves
ZH não conseguiu contato com a professora ou seu advogado.
O que diz a Unisinos
A Unisinos tomou conhecimento nesta sexta-feira, pela imprensa, de operação realizada pela Polícia Federal que apura desvio de recursos de programas federais de incentivo à pesquisa, especialmente do Projeto SUS Educador, em projetos relacionados à área de Educação em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A Unisinos informa que não tem vínculo com os projetos objeto da investigação. Informa, ainda, que as ações da Polícia Federal não têm por alvo a Unisinos e que, dentre as pessoas referidas na investigação, está uma pesquisadora da Universidade que realizou seu mestrado e doutorado na UFRGS.
Segundo a universidade, a professora e coordenadora do mestrado profissional em Enfermagem da Escola de Saúde da Unisinos, Simone Edi Chaves, presa na operação, está afastada das funções até o término das investigações.
O que diz o médico Hêider Aurélio Pinto, ex-secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde e que obteve título de mestre na UFRGS
ZH não conseguiu contato com o médico ou seu advogado.
O que dizem Marisa Behn Rolim, servidora da universidade e secretária do PESC/PPGCol, e a filha dela, Priscila Behn Rolim Coronet
Procurado, o advogado Emilio Millan Neto ainda não deu retorno.