Foi sob o histórico cipreste localizado em frente ao casarão de Gomes Jardim, na cidade de Guaíba, que a Chama Crioula foi acesa, simbolizando um dos atos iniciais do que se tornaria a Guerra dos Farrapos, em 1835. A solenidade, marcada pela chuva fina e pela ventania da manhã desta segunda- feira (14), dá início à comemoração da Semana Farroupilha — a primeira celebrada de forma digital.
O acendimento contou com uma encenação da conversa entre os três líderes da revolução — o general Bento Gonçalves, o coronel Onofre Pires e o capitão Gomes Jardim. Três atores sentados ao redor de uma lareira, em frente à árvore, representaram a conversa sobre as consequências da guerra e dos seus ideais.
Segundo Rinaldo Souto, diretor do espetáculo e escritor da peça, o objetivo do texto é justamente ponderar as contestações feitas atualmente sobre a revolta.
— Quando ouvimos algumas pessoas falar que se comemora uma guerra perdida, não se leva em consideração que não era esse o intuito. Era necessário um posicionamento, mas não sabiam que os ventos mudariam. Caso não tivessem feito, também seria dito que foram pessoas sem decisão — afirmou.
A representação do que o autor quis expressar foi exposta na fala de Gomes Jardim, médico, primo de Bento Gonçalves e que chegou a presidir interinamente a República Rio-grandense:
— Se não lutarmos, seremos chamados de covardes; se lutarmos e perdermos, nos chamarão de inconsequentes; se lutarmos e vencermos, talvez nos chamem de heróis, ou nos critiquem por termos lutado, colocando muitas vidas em perigo. É sempre assim, aqueles que pouco ou nada fazem, costumam achar que poderia ter sido feito de maneira diferente.
A peça terminou com a reprodução da fala de Bento, detalhando o que seria os ideias da república.
— Tive uma visão. Um guri que, buscando a sua própria identidade, colheu uma centelha desse fogo, tornando-a um dos nossos maiores símbolos, que são liberdade, igualdade e humanidade.
A solenidade começou por volta das 7h30min e foi reduzida e sem público, em função da pandemia. Neste ano, a indumentária ganhou novo acessório além de lenço e bombacha: a máscara.
Logo após a encenação, a chama da lareira onde conversavam os líderes foi colhida por um menino e alcançada para quatro cavalarianos. Ela foi levada até a Estação Hidroviária de Guaíba, onde embarcou no Catamarã e foi levada até Porto Alegre, simbolizando a invasão dos revoltosos na Capital naquele 20 de setembro de 1835.
A chama foi levada em cavalgada até o Palácio Piratini, onde acontece nova solenidade com o governador, Eduardo Leite, e o presidente da Assembleia Legislativa, Ernani Polo.
Comemoração digital
Uma das celebrações mais importantes no calendário das tradições gaúchas, a Semana Farroupilha terá uma programação online especial no Grupo RBS. Com o objetivo de deixar a festividade viva, a empresa criou uma programação especial para o mês de setembro, com um CTG Digital dedicado ao Mês Farroupilha.
Na plataforma, o visitante encontrará matérias, lives, webséries, vídeos com serviços como preparo do chimarrão e podcast disponibilizados de forma gratuita.
Um dos destaques é a gamificação, que contará com a criação de um personagem, customizado de acordo com as preferências dos usuários. A cada conteúdo consumido, o leitor acumulará pontos, que poderão resultar em pequenas premiações no fim da sua jornada.
A programação é uma forma de se aproximar do público em meio às restrições impostas pela pandemia. Em função do coronavírus, as atividades de 2020 do Acampamento Farroupilha, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, onde as celebrações se concentram em Porto Alegre, foram canceladas.
A iniciativa conta com o patrocínio do O Boticário e BIG e tem o apoio de Tumelero. O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) também faz concentração digital em suas redes sociais.