A conclusão da investigação da Força Aérea Brasileira (FAB) sobre a queda de avião da Voepass, que matou 62 pessoas em 9 de agosto, só deve ser apresentada no próximo ano. A informação foi divulgada na sexta-feira (6), durante a coletiva em que foi apresentado o relatório preliminar do trabalho do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
— Este acidente não deveria ter acontecido, não nas condições em que a aeronave estava voando. A gente ainda tem um longo processo pela frente, de investigação — afirmou o chefe da divisão de investigação do Cenipa, coronel aviador Carlos Henrique Baldin, ao destacar que o trabalho, iniciado há 30 dias, logo após a ocorrência, deve se estender por mais de um ano.
O relatório final do Cenipa não vai apontar responsáveis pelo acidente. O objetivo é compreender as causas a fim de prevenir ocorrências futuras. O caso também é investigado pela Polícia Civil de São Paulo, em inquérito que corre sob sigilo.
O relatório preliminar do Cenipa aponta as próximas questões a serem avaliadas pela investigação:
- "Fatores Humanos: explorar os condicionantes individuais, psicossociais e organizacionais relacionados ao desempenho da tripulação ante a situação vivenciada;"
- "Fator Material: averiguar a condição de aeronavegabilidade, com especial atenção aos sistemas Anti-Icing, De-Icing e de proteção contra stall da aeronave;"
- "Fator Operacional: analisar os aspectos relacionados ao desempenho técnico dos tripulantes e dos elementos relacionados ao ambiente operacional no contexto do acidente."
Novos dados ainda estão sendo coletados, segundo o relatório, e a apuração deve seguir com base nas informações obtidas por meio das gravações de FDR e CVR — aparelhos projetados para registrar dados sobre viagens aéreas e gravar as vozes da cabine de comando. A investigação levará em conta o desempenho técnico e emocional da equipe a bordo, o estado de segurança do voo e o ambiente operacional — seguindo as três principais linhas de ação.
Formação de gelo
O relatório divulgado na sexta traz a sequência de acontecimentos na aeronave, desde a decolagem, em Cascavel, até a queda, em Vinhedo. O levantamento mostra que houve formação de gelo durante boa parte da viagem e que um tripulante teria comentado sobre possível mau funcionamento no "de-icing", sistema que serve para remover gelo das asas.
O Cenipa afirma que apresentou somente dados factuais, sem análise, e que ainda é cedo para dizer qual a principal hipótese para a causa do acidente, ou descartar qualquer possibilidade.
Relembre o caso
A aeronave modelo ATR 72-500, propriedade da companhia Voepass, caiu em uma área residencial do município de Vinhedo, interior de São Paulo, no começo da tarde de 9 de agosto. O voo havia partido de Cascavel (PR), com destino a Guarulhos (SP).
Havia 62 pessoas a bordo, sendo 58 passageiros e quatro tripulantes. Todos morreram na queda. Quatro das vítimas eram nascidas no Rio Grande do Sul.
A empresa diz que a aeronave tinha passado por manutenção no dia anterior ao acidente, sem apresentar qualquer problema.
A queda do avião da Voepass é o quinto maior acidente em número de vítimas da aviação brasileira.