As milhares de toneladas de entulho que se acumularam no pós-enchente deixaram à mostra um problema que é de ordem global. Qual o destino do que não utilizamos mais? O descarte forçado de bens dos mais variados tipos no Rio Grande do Sul expôs a urgência de se pensar a destinação correta dos materiais, bem como as alternativas possíveis para que mesmo o lixo descartado tenha opções adequadas de reciclagem.
De acordo com levantamento elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em parceria com a empresa Mox Debris e voluntários, o volume de entulho de construção gerado no Estado em decorrência das cheias ultrapassaria 46 milhões de toneladas nas regiões afetadas. O amontoado em níveis jamais vistos na história gaúcha abre espaço tanto para discussões aprofundadas sobre a destinação dos resíduos como de oportunidade para o desenvolvimento de tecnologias ou mesmo negócios que pensem o tratamento dos materiais.
— O resíduo só é visto como problema quando existe a ausência da coleta e o caos é instaurado. Algo que ficou escrachado na crise climática — pontua Joice Pinho Maciel, doutora em Engenharia Civil, especialista em Economia Circular e pesquisadora do NucMat Unisinos.
Tudo passa pelo entendimento de cada resíduo. Segundo os especialistas ouvidos por Zero Hora, é necessário que as pessoas tenham consciência, no âmbito individual e no coletivo, sobre como descartam o seu próprio lixo e o impacto que isso gera no ambiente e na sociedade.
O compromisso com o que se descarta está cada vez mais alinhado às práticas ESG. Mais do que poluir menos, o consumo consciente mobiliza o social ao gerar emprego e renda e provoca as organizações a incluírem os princípios da reciclagem na governança e na condução dos negócios.
Atentas ao tema, empresas dos mais diversos segmentos passam a incorporar as iniciativas de gestão de resíduos em suas políticas. Os exemplos vão desde pequenas firmas que adotam a compostagem em seus refeitórios a grandes companhias que utilizam a sucata como matéria-prima para fabricarem novos coprodutos. Os resultados se dão de várias formas, e o importante é começar, dizem os gestores.
— O ESG veio para ampliar o olhar. É um compromisso que tem tomado força e é bem importante diante do caminho climático que estamos vivendo, com eventos cada vez mais extremos. Precisamos ter metas audaciosas — observa Paula Moletta, engenheira sanitarista ambiental e consultora Lixo Zero.
A gestão de resíduos é tema central da próxima publicação do Retoma RS. O projeto editorial valoriza boas práticas de sustentabilidade ambiental, social e de gestão. O caderno circula na quarta-feira, dia 28 de agosto, e traz avaliações de especialistas, entrevistas especiais e exemplos de empresas que já aplicam a gestão do lixo de forma estratégica nas suas corporações. A iniciativa é uma parceria do Grupo RBS com as empresas Renner, Aegea/Corsan, Be8 e Randoncorp.