Os incêndios em série que atingiram diversas cidades paulistas nos últimos dias devem deixar um prejuízo superior a R$ 1 bilhão. A crise causou duas mortes, bloqueios em rodovias, restrições em operações de aeroportos e suspensão de aulas. Até a manhã desta terça-feira (27) , cinco pessoas haviam sido presas por suspeita de terem provocado queimadas, conforme informações do portal g1.
Em meio à estiagem e ao calor extremo, o Estado registrou entre quinta e sexta-feira 2.316 focos de incêndio, número quase sete vezes maior do que o registrado em todo o mês de agosto do ano passado, que contou com 352 incidentes, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Confira a seguir os principais pontos para entender a situação.
48 municípios em alerta máximo
A Defesa Civil do Estado afirmou que não há mais registro de focos ativos, mas 48 municípios permanecem em alerta máximo. O cenário meteorológico não apresenta previsão de chuva, com a umidade relativa do ar podendo cair abaixo de 30%, especialmente no interior, aumentando o risco de novos incêndios.
Fumaça atinge até outros Estados
Os incêndios se espalharam com maior intensidade a partir da sexta-feira e cobriram com fumaça o céu de várias cidades. Na região de Ribeirão Preto, a fumaça densa e escura e a proximidade das chamas obrigaram cerca de 270 famílias a deixarem suas casas. Embora tenha sido mais forte no interior paulista, a fumaça também afetou Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.
3,8 mil propriedades afetadas
Conforme dados preliminares divulgados pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), cerca de 3,8 mil propriedades foram atingidas em 144 municípios.
A cultura mais afetada foi a da cana-de-açúcar. Segundo o CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), José Guilherme Nogueira, ao menos 59 mil hectares de áreas plantadas com cana foram queimadas.
Culturas como bovinocultura de corte e de leite, fruticultura, extração de látex para produção de borracha e apicultura também foram afetadas.
Preocupação até outubro
Ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse que o alerta deve permanecer, já que há previsão de que a seca prossiga até outubro, o que pode ocasionar novos incêndios.
As mortes
Dois homens, funcionários de uma usina em Urupês, na região metropolitana de São José do Rio Preto, morreram enquanto atuavam no combate às chamas. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, as vítimas tentavam apagar um foco em uma usina quando perderam o controle do caminhão que conduziam e o veículo pegou fogo. Eles tinham 30 e 47 anos.
As prisões
Duas prisões ocorreram ainda no fim de semana. Na manhã de sábado, em São José do Rio Preto, um homem de 76 anos foi detido por policiais militares após atear fogo em lixo, em uma área de mata no bairro Jardim Maracanã. Ele foi denunciado por uma moradora, que presenciou a cena e acionou os agentes. Na manhã de domingo, um homem de 42 anos foi preso após ser flagrado com um galão de gasolina em Batatais. Ele seria integrante de uma facção criminosa.
A terceira, informada na manhã desta segunda-feira, foi de um homem de 26 anos acusado de atear fogo em um canavial em Guaraci.
Já a quarta prisão, confirmada à noite, também em Batatais, foi de um homem de 27 anos, acusado de pôr fogo em um pasto. A quinta prisão ocorreu em São José do Rio Preto. Um homem, 44 anos, foi detido suspeito de colocar fogo em um terreno.
Suspeita de ação orquestrada
Para o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, o fato de as queimadas terem começado quase ao mesmo tempo é um indício de que houve ação orquestrada.
Agostinho afirmou que todos os incêndios ocorreram em decorrência de ação humana e descartou participação de fazendas de cana-de-açúcar nas queimadas.
— Obviamente, naquele momento também estava quente, baixa umidade, ventando. O cenário era bem explosivo para tudo isso. Mas a gente teve uma janela temporal onde esses incêndios aconteceram muito próximos. De fato chama atenção, então cria uma desconfiança. Mas tem que ser investigado — disse.
O secretário nacional de Defesa Civil, Wolnei Wolff, confirmou que "99,9%" dos incêndios no Estado foram causados por atividade humana.
— Não houve raio e também não houve acidente de torres de alta tensão que justificasse esse início dos incêndios. O ser humano, por algum objetivo, acha que o fogo resolve o problema dele, mas não tem ideia de que pode perder o controle — afirmou.
Já o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse não ver indícios de ação coordenada. Segundo ele, há casos de fogo ateado de forma irregular, para limpar terrenos ou eliminar lixo, por exemplo.
— Tem uma estiagem muito pesada, lavouras que estavam secas, calor extremo, baixa umidade relativa do ar e muito vento. Qualquer coisa pode provocar uma ignição — alegou.
A Polícia Federal abriu dois inquéritos para apurar a origem das queimadas.
Reunião com governadores
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve se reunir com um grupo de governadores de Estados afetados por incêndios ainda nesta semana.
Maior avião da FAB no combate
O combate aos incêndios contou com o maior avião da Força Aérea Brasileira, o KC-390 Millennium, que tem capacidade para lançar 12 mil litros de água contra as chamas. Além disso, foram usadas outras aeronaves, como helicópteros do Exército e da Marinha.
Foram empregadas também duas aeronaves da aviação do Exército que, equipadas com o helibalde (um reservatório de água), conseguem lançar até 700 litros por passagem — nesta segunda, essa aeronave sobrevoou a região de Franca, também afetada pelas queimadas.
Suspensão de aulas
Altinópolis, Brodowski, Batatais e Ribeirão Preto estão entre os municípios que suspenderam as aulas em suas redes municipais. Em Brodowski, as aulas serão retomadas nesta terça-feira (27). A prefeitura afirma que faria limpeza nas escolas nesta segunda-feira para receber os alunos.
Em Batatais, as aulas presenciais na rede pública foram suspensas — a mesma recomendação foi feita para a rede privada e estadual. A prefeitura de Ribeirão Preto também suspendeu as aulas da rede municipal de ensino.
A prefeitura de Altinópolis confirmou a suspensão das aulas por conta da necessidade de limpeza nas unidades escolares causadas pela fumaça, poeira e fuligem.
Na rede estadual, as aulas desta segunda-feira foram mantidas.
Voos cancelados
O Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, cancelou 26 voos no domingo por conta das baixas condições de visibilidade do ar provocadas pela fumaça de incêndios. De acordo com a CCR Aeroportos, empresa que administra o aeroporto da capital goiana, 13 chegadas e 13 partidas foram afetadas.