Vestígios do antigo Sítio Arqueológico da Redução Jesuítica de São Francisco de Borja de 1682, em São Borja, foram descobertos durante escavações no Colégio Sagrado Coração de Jesus, situado nas imediações da Praça XV de Novembro, no centro do município da Fronteira Oeste. Trata-se de uma descoberta histórica e de extrema relevância para o Rio Grande do Sul, já que a cidade abrigou o primeiro povoado dos Sete Povos das Missões.
A equipe da arqueóloga Kelli Bisonhim, 40 anos, da empresa Sophia Cultural, foi chamada pela escola para investigar aberturas feitas no solo durante a construção da fundação de uma cobertura do ginásio poliesportivo da instituição, que havia sido danificado e caiu durante um temporal em 2023. No começo do trabalho, foram encontrados vestígios da pedra Itacuru, que é o alicerce da redução jesuítica.
— A pedra Itacuru era conhecida como pedra cupim, pela semelhança com o cupinzeiro. Ela era utilizada nas Missões por ser abundante na região e muito dura, o que era excelente para fazer a fundação das estruturas — explica a arqueóloga.
A Redução Jesuítica de São Francisco de Borja começou a ser erguida durante o segundo ciclo missioneiro no RS. O local, que seria importante ponto estratégico na Guerra do Paraguai, era banhado pelo Rio Uruguai e fazia fronteira com a cidade argentina de San Tomé. Foi fundada pelo jesuíta Francisco Garcia.
Até o momento, o que foi encontrado são as prováveis oficinas da Redução Jesuítica de São Borja. Também foram achados mais de mil itens daquela época e dos períodos subsequentes, como objetos militares e do povoamento da região. Formada por 10 pessoas no total, a equipe já trabalha no sítio arqueológico há duas semanas.
Para São Borja, essa descoberta é importante. Aqui não há nenhuma evidência exposta da Redução Jesuítica, como existe, por exemplo, em Santo Ângelo
KELLI BISONHIM
Arqueóloga
Os vestígios serão preservados, assim como a parte mais importante, que pode se tratar de um antigo paiol ou poço. As investigações ainda estão em curso. Duas janelas arqueológicas serão feitas para proteger o patrimônio histórico na escola. Um memorial será criado na instituição para abrigar algumas das peças. As demais serão encaminhadas para museu em Santo Ângelo.
— É uma descoberta inédita. Para São Borja é importantíssima. Inclusive, vamos refazer a poligonal da Missão Jesuítica de São Borja a partir desses novos achados — comemora, Kelli, acrescentando:
— Esse poço ou paiol é uma descoberta inédita. Nós não temos em outra missão jesuítica com esse tipo de estrutura. Há uma subterrânea em São Nicolau, mas não é parecida com a daqui. Então, é importante porque acaba recontando toda a história de São Borja.
O Colégio Sagrado Coração de Jesus tem 92 anos de existência e atende a 770 alunos da Educação Infantil até o Ensino Médio. A instituição particular integra a Rede Verzeri e planeja utilizar a descoberta arqueológica no processo de educação dos estudantes.
A diretora Tandra Minozzo Bertim, 54, compartilha o sentimento após o achado no pátio da escola.
— É uma descoberta de imensa importância, pois ela nos permite obter uma visão mais profunda sobre a vida e a cultura das pessoas que viveram aqui muito antes de nós. Tanto que São Borja é a primeira Redução Jesuítica dos Sete Povos — afirma a diretora, dizendo que todo o apoio está sendo dado para a preservação do sítio arqueológico.
— Vamos ter uma oportunidade de integrar essa descoberta no ambiente educacional. Vai ser a única escola do Brasil com essa história toda e com as janelas arqueológicas que os alunos poderão ver e transitar por ali — conclui.
Técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de São Miguel já visitaram o local para conhecer a descoberta. A obra será retomada com acompanhamento arqueológico nas próximas semanas.