As obras no prédio da boate Kiss, em Santa Maria, estão avançando. Há duas semanas, o letreiro com o nome da casa noturna foi retirado. Destruído pelo fogo, o local teve o telhado e objetos internos retirados e entrou na fase de demolição. Na manhã desta terça-feira (23), a RBS TV acompanhou a etapa de classificação e descarte de materiais.
No local do imóvel, onde ocorreu o incêndio que matou 242 pessoas, em 2013, será construído um memorial. Alguns itens vão compor o acervo de objetos que prestará homenagem às vítimas.
A previsão inicial dava conta de que a derrubada da parede da fachada também ocorreria nesta semana. Houve reavaliação do prazo, porque a empresa responsável pelo serviço está verificando se há riscos para edificações vizinhas. Se houver este perigo, será feita demolição manual. Do contrário, haverá a utilização de maquinário.
O memorial terá uma área de 383,65 metros quadrados. O pavimento terá sala de escritório, sala multiuso, auditório, banheiros masculino e feminino, depósito, área técnica e varanda.
O espaço também contará com um jardim circular ao centro com 242 pilares de madeira em volta – cada um com o nome de uma vítima e um suporte de flores. O cronograma prevê que os trabalhos sejam concluídos até abril de 2025.
Cronograma da obra
Até 10 de agosto:
- Remoção dos itens do acervo do memorial (cerca de 15 itens);
- Remoção/demolição, classificação e descarte, de forma manual e mecanizada (gesso, lã de vidro, madeira, metal e entulho comum), totalizando cerca de 1300 metros cúbicos a serem descartados.
Até 10 de setembro:
- Escavações de forma manual e mecanizada; (cerca de cem metros cúbicos)
Até 10 de outubro:
- Concretagem da fundação
Até 10 de janeiro:
- Lajes e reboco do memorial, piso do espaço também
Até 10 de fevereiro:
- Sistema de climatização, rede elétrica, rede hidráulica, vidros e pinturas
Até 10 de março:
- Mobiliários, Iluminação, revestimentos, paisagismo e detalhes finais
Relembre o caso
Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, um domingo, um incêndio atingiu a Boate Kiss, no centro de Santa Maria. 242 pessoas morreram e outras 636 ficaram feridas, após fagulhas de dispositivos pirotécnicos atingirem a espuma acústica que revestia o teto da boate. Uma fumaça tóxica se espalhou pela casa noturna ao pegar fogo.
Em dezembro de 2021, o tribunal do júri condenou quatro réus:
- Elissandro Callegaro Spohr (empresário e sócio da casa noturna): 22 anos e seis meses de reclusão;
- Mauro Londero Hoffmann (empresário e sócio da casa noturna): 19 anos e seis meses;
- Marcelo de Jesus dos Santos (vocalista da banda que levantou o artefato pirotécnico): 18 anos de prisão;
- Luciano Augusto Bonilha Leão (produtor que comprou e ativou o fogo de artifício): 18 anos de prisão.
No entanto, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul anulou o júri em 3 de agosto de 2022 alegando irregularidades na escolha dos jurados, reunião entre o juiz presidente do júri e os jurados, ilegalidades nos quesitos elaborados e suposta mudança da acusação na réplica, o que não é permitido.
Em 5 de setembro de 2023, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a anulação do júri por quatro votos a um.
Em 2 de maio de 2024, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal o reestabelecimento da condenação dos quatro réus. A PGR alega que as nulidades apontadas pelo Tribunal durante análise do caso pelo tribunal do júri não causaram prejuízo aos acusados.
Os quatro réus aguardam a definição em liberdade.