Uma força-tarefa de agências governamentais atua nesta quinta-feira (13) e sexta-feira (14) no município mais destruído pela enchente de maio, Eldorado do Sul. Em meio a uma paisagem devastada e ao acúmulo de destroços, integrantes das Forças Armadas, polícias, Corpo de Bombeiros e servidores civis das áreas de saúde e segurança realizam mutirão para facilitar o acesso da população atingida pela catástrofe a serviços essenciais. Uma das prioridades é a impressão emergencial de documentos. Outra, providenciar vacinas para animais e pessoas.
— A enchente devastou mais de 80% de Eldorado do Sul. Para uma população que perdeu quase tudo, qualquer ajuda que o poder público possa prestar é de extrema urgência — define o capitão de mar e guerra Carlos Eduardo Gonçalves da Silva Maia, comandante do grupamento de Fuzileiros Navais da Marinha, que organiza aquilo que, no jargão militar, é chamado Ação Cívico-Social (Aciso).
Carioca, ele integra força de 400 fuzileiros que desde o início da catástrofe atua nos locais mais alagados, como Eldorado do Sul. Em três dias, montaram dentro da escola municipal David Riegel Neto, na área central da cidade, estrutura composta de tendas e salas para atendimento da população. Tropas do Exército também participam da missão. A expectativa é de atender até 700 pessoas. Entre os serviços prestados estão:
- Orientações de assistência jurídica
- Orientações sobre benefícios sociais do Estado
- Regularização do CPF
- Emissão de 2ª vias de certidão de nascimento e de casamento e Justiça Itinerante
- Atendimento de demandas sobre direito à saúde, meio ambiente e criminal
- Atendimento médico
- Atividade de promoção de higiene
- Vacinação de pessoas e orientação sobre direitos da criança e do adolescente
- Serviço de assistência religiosa
- Informação e assistência a refugiados e apátridas
- Assistência a migrantes, com apoio na documentação
- Entrega de ração animal, vacinação e vermifugação de cães e gatos
O oficial da Marinha ressalta que no local não é feito ali cadastramento para benefícios sociais, como o Cadastro Único. Entre as agências que participam do esforço concentrado estão a força-tarefa do SUS, secretaria estadual de Saúde, serviço da ONU para migrantes e refugiados e diversas entidades do Judiciário, que explicam sobre direitos dos cidadãos.
Cãozinho examinado
Uma das que procurou o auxílio governamental é a aposentada Selanira Crestani. Ela passou 29 dias com a residência embaixo de água. O receio de saques era permanente. Peregrinou por três abrigos, levou os pertences que restaram, de barco, por três vezes. Sempre acompanhada do fiel escudeiro, o cão shitzu Tobe. Agora que voltaram para casa, chegou a vez de o pet ser examinado.
— Entrou e saiu da água muitas vezes, pode ter alguma doença incubada. Precisa de exame e vacinas — resume Selanira, que precisou esperar poucos minutos para ser atendida.
O cãozinho não tinha problemas de saúde, mas foi imunizado. Selanira recebeu também pacotes de rações, doados pelos fuzileiros.
Novos documentos
Já o casal Claiton Eugênio da Cruz e Elaine Terezinha Beloni Campos foi atrás de novos documentos. Perderam tudo que tinham na casa de dois andares, que jamais imaginaram que inundaria. Eletrodomésticos, móveis, roupas. Mas precisam recomeçar a vida aos poucos.
— Um dos primeiros passos é tirar cópia da Certidão de Nascimento. A partir dela fazemos outros documentos — explica Claiton.
Elaine também buscou medicamentos para problemas crônicos, como pressão e colesterol. Conseguiu.
O mutirão continua nesta sexta-feira (14). Os atendimentos são na escola, na Avenida Emancipação, 664, na área central de Eldorado do Sul.