O rompimento parcial da barragem da Usina 14 de Julho, entre Cotiporã e Bento Gonçalves, no Rio das Antas, elevou o alerta de monitoramento em pelo menos outros 18 reservatórios no Estado. Confirmada por volta das 14h desta quinta-feira (2), a ruptura parcial da ombreira direita da usina hidrelétrica operada pela empresa Ceran provocou a vazão imediata das águas e gerou uma onda na correnteza do rio.
Dez munícipios gaúchos estavam na trajetória das águas sob risco de sentirem os níveis adicionais que indicavam a possibilidade de até seis metros de ampliação das enchentes. Era o caso de São Vicente, Santa Tereza, Muçum, Encantado, Colinas, Arroio do Meio, Lajeado, Cruzeiro do Sul, Bom Retiro e Taquari.
Fernando Mainardi Fan, doutor em Recursos Hídricos e professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFGRS explica que, por se tratar de uma usina fio d'água, a Usina 14 de Julho tem influência menor sobre os períodos de cheias, pois quando há elevação de cota, com pouca capacidade de armazenagem, a estrutura apenas faz verter as águas.
Agora, é diferente, uma vez que o rompimento parcial fez com que o volume armazenado, ainda que pequeno, tivesse vazão imediata e gerasse uma onda de cheias no trajeto das águas.
— Esse volume desce o rio de forma muito rápida, elevando os níveis do Rio das Antas que já estava em estado crítico — comenta.
Os modelos de projeção indicavam que em até 11 horas haveria elevação entre seis e três metros no nível do Rio das Antas, antes de desembocar no Rio Taquari.
Estudos
Alice Castilho, diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do Serviço Geológico do Brasil (SGB), explica que há estudos prévios para o rompimento de barragens e a SGB teve acesso à mancha de águas da 14 de Julho. Ela informa que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) solicitou avaliações adicionais, porque o estudo em questão considera a hipótese de um rompimento total, mas não prevê modelos para ruptura parcial, conforme a verificada na usina.
A diretora do SGB reforça que a Bacia do Taquari conta com barragens mais "jusantes", ou seja, cujo fluxo da água corre na direção normal de um rio. Mas, afirma que caso o episódio tivesse sido registrado em uma estrutura "montante", em que a vazão ocorre no sentido contrário ao das águas, indo do ponto mais baixo ao mais alto, haveria uma ruptura em cascata nas demais estruturas. Por essa razão, ela afirma que o momento exige atenção redobrada:
— Isso não é excesso de cuidado, não. As hidrelétricas têm de avisar a população em caso de risco. Todas precisam ter esses estudos de projeção para o caso de ruptura.
Atenção redobrada
- A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) monitora 13 estruturas de barragens para uso múltiplo. Destas, cinco delas estão em estágio de evacuação: Santa Lúcia, em Putinga; São Miguel do Buriti, em Bento Gonçalves; Belo Monte, em Eldorado do Sul; Dal Bó, em Caxias do Sul; e Nova de Espólio de Aldo Malta Dihl, em Glorinha.
- A Aneel e o Operador Nacional do Sistema (ONS) acompanham a situação de outras cinco barragens de geração de energia elétrica no Estado que estão em atenção. São elas: Capigui, em Passo Fundo; Guarita, em Erval Seco; Herval, em Santa Maria do Herval; Passo do Inferno, em São Francisco de Paula; e Monte Carlo, em Bento Gonçalves.
Novos alertas da Corsan
- A Corsan emitiu novas Declarações de Emergência para Barragens em Santa Maria e Bento Gonçalves. O alerta para Santa Maria acontece pela probabilidade de galgamento da Barragem Saturnino de Brito, quando o volume de água excede a capacidade de escoamento do vertedouro, pela cheia do Rio Ibicuí-Mirim. A companhia está alertando a população do entorno — localidades de Passo dos Macacos e Canabarro — para a necessidade de evacuação da área e prestando o auxílio necessário.
- Em Bento Gonçalves, foi constatada a erosão da margem direita da Barragem Arroio Barracão. Nesta região, a Corsan está alertando e apoiando a remoção de 50 famílias de Balneário São Bento, estrada Barracão, Vilarejo de Integração Anjos Unidos e localidade de São Pedro.
- A companhia emitiu a mesma declaração para a barragem São Miguel, localizada junto ao Arroio Burati, também em Bento Gonçalves, por conta de uma movimentação da encosta ao lado da barragem, onde há risco de extravasamento das águas do reservatório. Equipes da empresa em alinhamento com Defesa Civil, prefeitura e Secretaria Estadual do Meio Ambiente trabalharam na evacuação completa e isolamento dos arredores, com a retirada de 170 famílias do Vilarejo de Integração Anjos Unidos, Club São Bento e Comunidade Espírito Santo (Pinto Bandeira).