Seja para passear, alimentar, tratar ou, até mesmo, juntar cocô. Mais de 200 voluntários estão se revezando, no Parque Germânia, para tratar de cães que ficaram para trás nas enchentes que tomaram Porto Alegre. Juntos, estes heróis dos pets transformaram a cancha de bocha do parque em um canil que, apesar de improvisado, oferece coberta quente, água, comida, remédios e, principalmente, amor para os bichinhos.
Quem está à frente desta iniciativa é Letícia Eggers Burmann, 52 anos, fundadora da ONG Paixão de 4 Patas, que mobilizou além da administração do Germânia, a Confraria Feminina do Jardim Europa e o shopping Iguatemi. Assim, em uma bem organizada operação de acolhimento, ela e seus parceiros de voluntariado estão buscando por lares temporários para os cães resgatados.
— Nós decidimos fazer isso ontem (8) de manhã e já recebemos 61 animais. Passaram todos por triagem, tratamento, atendimento. Levamos três para veterinário e estão internados na clínica Pet Home, que é parceira. E já estamos, graças a Deus, conseguindo muitos lares temporários — conta Letícia.
No mesmo dia em que começou a operação, foram oito cães que encontraram abrigo em lares temporários. Nesta quinta-feira (9), até o fim da tarde, outros 18 foram levados para as casas dos novos amigos Durante a noite e a madrugada, novos inquilinos devem chegar. Enquanto a reportagem esteve na feira, a arquiteta Frances Domingues, 31 anos, estava levando uma cadelinha para casa — o nome, vai deixar para o filho de quatro anos escolher.
Ela, sabendo que a iniciativa é para ser lar temporário, até que se encontre os tutores da nova amiguinha de quatro patas, já deixou claro que, caso não ocorra, o seu lar deixa de ser temporário e vira permanente para a vira-latinha mansinha e um pouco assustada com o movimento.
— Me corta o coração ver os bichinhos passando por tudo isso. Eu fico muito sentida por eles, que não entendem tudo o que está acontecendo e, às vezes, acabam ficando para trás para morrer — diz Frances, emocionada olhando para a cachorrinha enquanto aguardava o kit com mantimentos dado pela ONG para ajudar na estadia.
Mas por que a iniciativa que ocorre no Germânia é para lar temporário e não definitivo? Os animais resgatados, provavelmente, têm tutores que, possivelmente, não puderam levar os pets junto na hora do resgate, explica Letícia. Até por isso, a ONG Paixão de 4 Patas está recolhendo apenas os bichinhos que estão sendo resgatados do bairro Humaitá, o que facilita a identificação dos tutores posteriormente.
E, para este trabalho, Letícia pede ajuda:
— A gente vai precisar do apoio da prefeitura e toda a comunidade para fazer essa dinâmica de divulgar as fotos dos bichos, identificar os tutores. A minha ideia é chegar nos abrigos onde estão as pessoas e perguntar, uma por uma, se a pessoa perdeu um cachorro e se tem foto dele. E, para isso, precisamos de voluntários, para ajudar a cruzar estas informações.
Cuidados
Encontrar o lar temporário, neste momento, é o principal foco da iniciativa promovida no Germânia. Porém, enquanto os animais não acham uma casa para aguardar pelos seus tutores, a equipe de voluntários entrega tudo o que pode para fazer com que a experiência deles no abrigo seja a melhor possível.
— Vim aqui por causa da angústia de poder ajudar. A minha casa não foi afetada. Trabalho home office, poderia sair em qualquer horário, vi que estavam acolhendo os animais e vim ajudar. Tenho uma irmã que é veterinária, que mora em outro Estado, então, eu vim por ela, por mim e por todo mundo — diz Andreia Silveira da Costa, publicitária de 34 anos, que passeava pelo parque com uma cadelinha idosa, já cega e muito carinhosa. — E este movimento também dá visibilidade para esta ação, que tem o ano inteiro animais para adoção, mas as pessoas não procuram.
No acampamento montado no Germânia, a movimentação era intensa de pessoas que, se não podiam levar os bichinhos para casa, ao menos, entregavam doações, seja de ração, medicamentos, caminhas e roupas. Dentro da cancha, toda forrada com lonas para não entrar vento, divisórias foram erguidas com pallets, e os animais ficavam presos em coleiras, enquanto os candidatos a acolhida passavam, de maneira organizada, e escolhiam quem iria para casa com eles — tudo isso com a supervisão de veterinários voluntários para os cuidados mais imediatos.
Porém, alguns bichinhos, em situação mais complicada de saúde, precisavam de internação. Por isso, Ligia Shimizu, gerente de RH, 33 anos, que já tem uma conta nas redes sociais para resgate de cães, a @maggieadeprecao, estava no Germânia para levar um dos animais, que tinha sarna, para se tratar em uma clínica veterinária — o custo, será dividido entre o bolso dela e de amigos de São Paulo, de onde ela é.
— Não tem ninguém que cuide deles. A gente ainda consegue se cuidar, mas os animaizinhos, não. Os animais salvam as nossas vidas emocionais — diz Ligia.
Quem quiser passar pelo Germânia para fazer uma doação ou levar um cãozinho para casa — em lar temporário que, talvez, possa virar definitivo —, o espaço fica aberto para o público diariamente, sem prazo para acabar, das 9h às 21h, na cancha de bocha. Mas, para algo permanente, a ONG Paixão de 4 Patas possui outros animais, entre cachorros e gatos, para adoção em sua página no Instagram, a @paixaode4patas.