O tempo firme e o sol que brilhava, ainda que timidamente, nesta quinta-feira (9) contribuíram para o reforço da ação de voluntários e bombeiros que estão resgatando e levando mantimentos à população ainda ilhada em São Leopoldo. Iniciada na sexta-feira (3), a cheia do Rio dos Sinos, causada pela chuva excessiva no Estado, se estende há quase uma semana no município.
O principal ponto de partida e chegada dos barcos segue em frente ao Carrefour, no Centro. No local, com três embarcações, atuava uma equipe com cerca de 20 bombeiros e agentes da Defesa Civil que vieram de outras cidades ou Estados para ajudar nos resgates em São Leopoldo. Um dos resgatados nesta quinta foi Jorge Luís Soares, 70 anos, que teve sua casa inundada e agora vai buscar abrigo na moradia da filha.
— Na minha casa perdi tudo. É uma situação muito triste — afirmou ao pisar em terra firme.
Além dos agentes, dezenas de voluntários, com seus barcos particulares, alugados ou emprestados, também saíam a cada cinco minutos para resgatar ou levar mantimentos a quem ainda ficou nas casas e apartamentos das regiões mais afetadas pela enchente.
A reportagem de GZH circulou a bordo de uma das embarcações de voluntários. Matheus Borges, 24, junto com o pai, Ary, ambos moradores de São Leopoldo, organizaram uma vaquinha com 10 conhecidos que reuniram R$ 19 mil para comprar um barco especificamente para ajudar nos trabalhos de auxílio aos isolados.
Na água desde domingo (5), pai e filho, ao lado de outros amigos, já resgataram cerca de 150 pessoas, além de levar água, comida e remédios a outras centenas de habitantes da cidade.
— Não temos como não fazer de tudo que for possível para ajudar nesse momento — destaca Matheus.
A missão principal desta quinta era justamente levar água e medicamentos às pessoas que ainda estão isoladas pelas enchentes, e eventualmente resgatar quem desejasse deixar sua casa. A bordo da embarcação, o cenário ao redor era desolador, com diversos carros e casas quase que completamente engolidos pelas águas. Nas janelas e sacadas dos prédios, moradores ilhados gritavam para os voluntários suas maiores necessidades — água potável era o item mais solicitado. Assim, sempre que fosse possível alcançar, a embarcação de Matheus e Ary encostava nas casas e prédios para fornecer os mantimentos.
— Muito obrigado, que Deus pague vocês em dobro — disse em agradecimento uma senhora que recebeu um dos galões de água do barco.
Outro voluntário que atua nos resgates em São Leopoldo é Matheus Soares, 36 anos. Também morador da cidade, Matheus não teve a casa atingida, mas a esposa dele perdeu todo seu negócio, uma academia de ginástica, com a enchente.
— Estou nas águas desde sexta-feira, e, enquanto ainda precisarem de ajuda, vou continuar — reforça Matheus, que pilota uma moto aquática emprestada por um amigo, auxiliando a puxar barcos sem motor. Ele calcula já ter ajudado a resgatar cerca de 80 pessoas.
São Leopoldo é mais um município gaúcho que luta para se recuperar das inundações causadas pela forte chuva que castigou o Estado nos últimos dias. A prefeitura local estima que cerca de 180 mil pessoas tenham sido desalojadas ou tenham ficado isoladas pela enchente. A cidade tem 270 mil habitantes.