A chuva forte que cai sobre o Rio Grande do Sul desde segunda-feira (29) provoca alagamentos, bloqueios de estradas e faz com que famílias deixem suas casas. Em Roca Sales, no Vale do Taquari, o solo encharcado provocou um deslizamento de terra, soterrando uma casa na comunidade Linha Pinheirinho. Um dos moradores da residência, um homem com idade próxima de 60 anos, está desaparecido no local, conforme informações repassadas pela prefeitura de Roca Sales.
Segundo o prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana, os voluntários que conduzem o resgate não conseguiram nenhum contato com o homem desde que a moradia foi atingida por uma grande quantidade de terra.
O deslizamento atingiu a residência por volta das 6h. Dentro da casa estavam pai, mãe e filho – este conseguiu sair pelo telhado da residência, instantes depois do deslizamento.
A mãe teve parte do corpo soterrado, mas conseguiu se comunicar com moradores da região que conduzem os resgates. Por volta das 11h, o prefeito confirmou que essa mulher, com idade próxima de 60 anos, foi retirada com vida de dentro da moradia.
Ainda segundo o prefeito, ela está no local precisando de atendimento médico, mas não há como levá-la a um hospital, visto que o acesso à região por terra está bloqueado e não há condições meteorológicas para pouso de helicóptero naquela área.
— Quem está fazendo o resgate é a comunidade, com equipamentos da prefeitura. Os bombeiros não conseguem acessar — disse Fontana.
Em setembro do ano passado, a cidade foi castigada por uma enxurrada, provocando dezenas de mortes. Em março deste ano, seis meses após a tempestade, a área central do município ainda apresentava marcas da tragédia.
Cidade ainda tem sinais de destruição
Na área central de Roca Sales ainda é possível encontrar vegetação espalhada pelas ruas. Pedaços grandes de árvore, agora secos, se misturam em postes e permanecem até dentro de estruturas que foram condenadas.
Na Avenida General Daltro Filho, a principal do município que tem pouco mais de 10 mil habitantes, o rasgo no asfalto que dividiu a cidade em duas partes foi parcialmente recuperado.
Pelo Centro, o comércio busca se restabelecer com adaptações. Dono de uma loja de materiais de construção, Walmir Conzatti conta que pensou em desistir do negócio. Motivado por ajudar a cidade se reerguer, decidiu manter a empresa aberta:
— Se todos pensarem em sair daqui, Roca Sales vai desaparecer. Vejo que o ânimo das pessoas vai mudando dia a dia. Hoje muitas lojas retornaram, outras não retornaram ainda, mas eu acredito que mais seis meses, se Deus nos der a graça de não dar novas enchentes, Roca Sales vai mudar bastante ainda.
Como foram os quatro dias que culminaram na tragédia do Vale do Taquari em setembro de 2023
A inundação que levou de arrasto casas inteiras e deixou pelo menos 50 mortos no Vale do Taquari, um mês atrás, começou a se desenhar no horizonte de municípios gaúchos como Muçum, Roca Sales e Encantado ainda três dias antes de a enchente invadir as primeiras ruas e avenidas.
A cronologia do desastre mostra que na noite de 1º de setembro, 72 horas antes de o rio engolir uma cidade atrás da outra, pancadas de chuva passaram a cair em regiões de cabeceira e a confirmar previsões divulgadas no mesmo dia de que a precipitação seria intensa. As condições que fariam a água derrubar paredes de concreto como se fossem peças de dominó foram se agravando ao longo dos dias seguintes, primeiro de forma lenta, depois vertiginosa, até a enxurrada ganhar dimensão jamais vista entre os dias 4 e 5.
Previsões do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) já indicavam risco de chuva "severa" com possibilidade de enxurrada no Vale do Taquari na manhã de sexta-feira (1º).
Essa expectativa começou a se materializar à noite, quando estações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registraram os primeiros chuviscos provocados pela passagem de uma frente fria que avançara desde a Argentina e, em vez de seguir se deslocando, estacionou sobre o Rio Grande do Sul. Imóvel, ganhou o reforço de uma área de baixa pressão em níveis elevados da atmosfera — o que suga o ar úmido da superfície até grandes altitudes — e permaneceu despejando volumes cada vez maiores de água sobre pontos da região centro-norte do Estado por onde passam rios como o Carreiro e o Guaporé, que desembocam no eixo Taquari-Antas.