Aline Maria Hauschildt, 47 anos, e o marido, Ricardo Luís Grun, 52, assistiam à beira da água o que antes era rua e, neste sábado (18), virou rio e invadiu a casa deles. Moradores do Centro de Lajeado, contavam que levaram os filhos para a casa da avó e carregaram o que podiam para o segundo andar da residência da vizinha.
— Aqui, todo mundo se ajuda. Esta é a parte boa — comenta Aline.
O casal perdeu tudo na enxurrada do início de setembro. Na tentativa de se proteger do rio que subia, subiram até o segundo andar da casa. Quando foram resgatados, estavam apenas com a cabeça para fora d'água. Mesmo assim, Ricardo descarta a saída definitiva de lá.
— Morremos dentro d'água, mas não saímos. Se tu morar no morro, pode cair um raio na tua cabeça. Se tu morar em Nova York, pode morrer em um terremoto. Não muda nada — defendeu o morador.
Apesar do cenário negativo, os moradores relatavam um contexto diferente do verificado há dois meses em pelo menos um aspecto: a ascensão do nível do rio se deu de dia, perceptível aos olhos de quem vive na região. A preocupação de Ricardo era com o gato, que havia ficado em casa. Na enchente de setembro, ele e os cachorros foram abrigados no forro da residência e sobreviveram.
Depois da enxurrada, Aline e Ricardo contaram com a doação de parentes para mobiliar a moradia. Apesar de descontente com a velhice dos móveis e a perspectiva de ter que repô-los mais uma vez, o lajeadense deixa claro: o que importa é que todos estejam com vida e bem.
Fernando Schuster, 34 anos, ergueu seus pertences para o segundo piso e torcia para que isso fosse suficiente. Em setembro, não foi: a água chegou a estar com mais de um metro de altura no andar superior, o que fez com que ele e sua família perdessem tudo.
— Este ano foi um dos piores: já teve seis ou sete enchentes. Mas, geralmente, não atinge ali (onde fica sua casa) — comenta Fernando.
Na última enchente, a família foi resgatada pelos bombeiros, usando caíque. Jalusa Dutra de Araújo, 47 anos, acordou cedo para iniciar junto ao marido, Nelcy da Costa Sanhudo, a missão de resgatar os vizinhos.
— Da outra vez, nós tiramos mais de 200 pessoas. O pessoal me liga para a gente tirar as coisas de dentro de casa e a gente vai de caíque e encosta — conta Jalusa.
O motivo para tanto empenho? Amor.
— É muito amor. Tem que ajudar. Deus diz para ajudar o irmão próximo — defende a lajeadense.
Em setembro, além dos vizinhos, Jalusa resgatou a cunhada, que estava com água pelo pescoço. Morador de um bairro mais alto, o casal foi poupado da enxurrada.