As últimas porções de barro trazidas pelo Rio Taquari no sábado (18) desceram pela calçada em frente ao Hospital Roque Gonzales, em Roca Sales, empurradas por um rodo pouco antes das 9h da manhã desta terça-feira (21). Quando o sino da igreja badalou a hora cheia, o sol já havia secado a água esguichada pelas mangueiras dos funcionários que terminavam a limpeza na área frontal.
Nos fundos, onde o rio corre, o barro e os entulhos acumulados ainda levarão tempo para serem removidos. Do lado de dentro, no entanto, não é possível deduzir, visualmente, que houve uma nova inundação com mais de um metro de água acumulada no térreo há poucos dias.
O final de semana da segunda inundação em menos de três meses foi de muito esforço físico e psicológico pela equipe de trabalhadoras da instituição. Além dos desafios rotineiros de quem vive a saúde pública no Interior, elas precisaram transportar macas, mesas, cadeiras, documentos, equipamentos menores e até sete pacientes internados para os andares mais elevados na madrugada da última sexta-feira pela escada, antes que a água do Taquari alcançasse as salas e corredores.
— Já estamos especialistas em enchente — brinca Andréia Formentini, 37 anos, supervisora administrativa desde abril.
Ela não esconde o cansaço e a insegurança. Ao lado de 20 colegas, divide o medo de que outra enchente suje, de novo, as paredes brancas e o piso de lajotas antigas que elas passaram as últimas 48 horas limpando. Quatro destes colegas vivem em casas que frequentemente são atingidas pela cheia.
Na segunda-feira, o Roque Gonzales contou com a ajuda de presidiários de Encantado para restabelecer a higiene do centro de saúde, assim como ocorreu em setembro. Desta vez o hospital não ficou sem luz, nem sem água, nem precisou interromper o atendimento. O primeiro e o segundo andar estão limpos. O subsolo não tem atendimento nenhum desde setembro.
Nesta manhã a régua de medição do Rio Taquari de Encantado, a mais próxima de Roca Sales, media 5m58cm. No sábado, ponto alto da inundação do Taquari, o nível nesta mesma régua chegou aos 20m60cm.
Há previsão de mais chuva para a quarta-feira (22).
— Se a água subir de novo, vamos ter que fazer força de novo para subir e descer tudo cuidando dos pacientes que estão aqui — projeta a coordenadora, resignada.
Recuperação com doações
Andreia conta que as portas novas, cadeiras, equipamentos e insumos novos instalados de setembro até o presente foram doados por empresas e organizações civis. Na hora que a água sobe, no entanto, apenas a própria força dos braços e das pernas de enfermeiras, técnicas, recepcionistas e demais funcionárias é apoio para salvar o mobiliário de uma nova perda total.