A corrida para as montanhas deflagrada nos municípios inundados pelo Rio Taquari no começo de setembro, que leva as prefeituras da região a priorizar a construção de imóveis em áreas mais elevadas, impõe um cuidado: evitar a ocupação excessiva ou indevida de áreas de morro por conta do risco de deslizamentos.
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— Toda encosta com mais de 30 graus de inclinação tem potencial para deslizar. Além disso, é preciso cuidar da forma como o solo é usado, evitando o corte das matas ripárias (próximas a corpos d'água), que ajudam a frear o aguaceiro — avalia o geólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rualdo Menegat.
Em nota, o Serviço Geológico do Brasil informa que, sem uma análise prévia, não é possível afirmar se as áreas mais próximas aos morros do Vale do Taquari estão sujeitas a deslizamentos. O órgão sustenta que "a medida de realocação da população afetada é a medida mais adequada, uma vez que a região está sujeita a novas tragédias, porém, antes de se definir os locais para reconstrução, devem ser feitos estudos para caracterizar os locais a serem ocupados do ponto de vista geológico-geotécnico, fornecendo, assim, informações essenciais".
Prefeito de Muçum, Mateus Trojan observa que nenhum empreendimento será feito sem passar pelos processos legais que incluem o licenciamento ambiental e a análise de risco. Outro passo fundamental no período pós-enchente será aprovar um plano diretor com regras de ocupação do solo em Roca Sales (o documento é obrigatório em cidades com pelo menos 20 mil habitantes, o dobro do município) e atualizar a legislação em Muçum com avaliações mais detalhadas sobre os pontos de perigo.
O texto atual não traz, por exemplo, análises aprofundadas sobre o risco de cheias. Por meio do plano, é possível coibir a construção em terrenos inundáveis e facilitar a urbanização de novas áreas. Para isso, é possível permitir construções maiores e que ocupem maiores percentuais do terreno em algumas localidades, por exemplo, e reduzir ou zerar esses índices em outras.
Em parceria com o Estado, devem ser erguidas cerca de 240 casas provisórias nas duas cidades. Em um segundo momento, há R$ 195 milhões garantidos pela União para financiar moradias definitivas. A verificação de quantas famílias perderam a casa de fato, estão com o imóvel condenado ou terão de se mudar com urgência por ocuparem terrenos de extremo risco ainda está em andamento. Estimativas das próprias prefeituras indicam que devem envolver pelo menos 200 unidades em Muçum e outras 180 em Roca Sales, mas os números ainda podem oscilar. O governo do Estado também vem avaliando a situação dos imóveis na região.