Cidades varridas pela inundação do Rio Taquari, como Roca Sales e Muçum, terminam o trabalho de limpeza e atendimento das famílias mais atingidas pela enxurrada enquanto já começam a planejar a reconstrução dos imóveis destruídos e como será o desenvolvimento urbano a partir de agora. Especialistas consultados por GZH sugerem algumas medidas capazes de otimizar a aplicação dos recursos e reduzir o risco de que desastres se repitam em decorrência das chuvas na região. Veja abaixo um resumo de algumas dessas estratégias.
+ Tragédia das cheias redireciona crescimento de cidades no Vale do Taquari do rio para zonas altas
+ Especialistas alertam para riscos de ocupar zonas próximas a morros no Vale do Taquari após cheia
+ Em meio à reconstrução, prefeituras do Vale do Taquari temem perda de moradores
Planejamento regional
A engenheira ambiental e professora da Universidade do Vale do Taquari (Univates) Sofia Royer Moraes sustenta que os municípios da região poderiam estabelecer regras de ocupação urbana de forma coordenada, já que enfrentam um cenário comum de risco em relação às cheias:
— Considerando a pressão de construtoras sobre os prefeitos e as equipes técnicas para ocupar áreas de risco, a adoção de níveis (a partir dos quais seria possível construir) com um tempo de retorno (período médio em que um evento extremo ocorre, usado como baliza para autorizar a ocupação de uma área) regional poderia ser uma medida positiva, retirando essa definição da esfera municipal — afirma, em referência a um dos critérios utilizados para permitir a ocupação de um terreno.
Ação coordenada
A coordenadora do Laboratório de Vulnerabilidades, Riscos e Sociedade da Feevale, Danielle Martins, recomenda que o planejamento e a reconstrução dos municípios afetados sejam aproveitados pelas gestões locais para aprofundar ações em parceria com autoridades estaduais e nacionais, comitês de bacia hidrográfica, universidades e sob apoio técnico e científico de entidades de classe, entre outras organizações, a exemplo de iniciativas que já vêm sendo realizadas.
— Em vez de começar do zero os mapeamentos de risco, é possível se debruçar sobre estudos que já existem e avançar — exemplifica a especialista.
Preservação dos núcleos urbanos
Mestre em Planejamento Urbano e Regional da Univates, Augusto Alves sustenta que não seria viável remover áreas históricas e consolidadas dos municípios atingidos por razões econômicas, culturais e sociais. Para o especialista, é mais proveitoso "trabalhar dentro do real":
— Provavelmente, será preciso subir um pouco a cota (nível mínimo permitido para construções) e ir removendo e realocando gradualmente quem mora abaixo dela, ir esvaziando as partes mais atingidas. Depois de removidas as moradias em áreas críticas, é preciso fazer um bom plano de prevenção para o que ficar, já que as cidades estão nesses locais e vão ter de seguir convivendo com as cheias.
Verticalização das moradias
A professora da Univates Sofia Royer Moraes observa que as cidades mais afetadas podem substituir, ao menos em parte, as casas destruídas por prédios que, por serem mais elevados, resistem melhor às inundações e cujos andares superiores podem servir de abrigo durante as cheias.
Intervenções baseadas na natureza
A doutora em Qualidade Ambiental da Feevale Danielle Martins sustenta que é possível adotar ações que ajudem a amenizar o impacto das cheias, mas evitando grandes obras de engenharia que, além de caras, teriam pouco efeito sobre as inundações. Um estudo do Instituto de Pesquisas Hidrológicas da UFRGS já indicou, conforme a professora da Univates Sofia Royer Moraes, que seriam necessários 99 reservatórios com barragens para controlar a vazão do Taquari-Antas.
— É possível adotar o que chamamos de estratégias baseadas na natureza, fugindo de diques, barramentos e outras soluções tradicionais de engenharia. Em vez disso, pode-se usar banhados artificiais, bacias de retenção, que podem ajudar — afirma Danielle.
Avaliação de rotas de fuga
A engenheira ambiental da Univates Sofia Royer Moraes sustenta que o processo de reconstrução das cidades deve levar em conta também o estabelecimento de rotas a serem utilizadas pelos moradores em caso de cheia:
— É importante observar a viabilidade de rotas de fuga antes de se aprovar a reconstrução de unidades habitacionais, uma vez que devem ser instalados, também, sistemas de alarme com sirenes nessas cidades, vinculados a sistemas de previsão de tempo e monitoramento (do nível dos rios) mais robustos.
Importância dos planos diretores
Doutor em Planejamento Urbano e Regional da Feevale, Tiago Balem lembra que nem todos os municípios afetados pela cheia contam com planos diretores e estudos adequados de áreas de risco. O plano diretor é uma ferramenta fundamental para regrar e direcionar o desenvolvimento dos municípios, podendo utilizar instrumentos como índices de aproveitamento (que metragem se pode construir em um terreno) e taxas de ocupação (qual a fração de área do terreno que a construção pode ocupar).
— É preciso usar essas ferramentas para estimular o crescimento da cidade onde os riscos são menores, e desestimular onde o perigo é maior — afirma Balem.