Não precisava de muito para Sebastião Nunes de Oliveira, 60 anos, e Genecilde Freitas, 52, começarem uma festa. Sempre que podiam, faziam churrascos em casa, cercados por muita gente, os sete filhos e os amigos. Nego e Gene, como eram conhecidos, morreram durante as enchentes que assolaram Muçum, no Vale do Taquari, na semana passada. Eles e mais sete pessoas se despediram dos familiares no velório coletivo ocorrido em Vespasiano Corrêa, no último sábado (9).
Genecilde tinha três filhas do primeiro relacionamento, Marlise e as gêmeas Marinês e Marisete, quando encontrou Sebastião. Com Nego, teve quatro meninos, Marcelo, Marcos, Fabrício, Roberto. A casa na rua João Dallazen, em Muçum, era o ponto de encontro da família, mesmo que alguns casassem e fossem morar longe para construir suas novas vidas. Era o caso de Marcelo, 25 anos, primogênito entre os homens.
— Quando fiz 18 anos, tive minha família, com dois filhos. Voltei a morar com meus pais há três semanas, depois de um tempo sem nos falarmos. Parece que era para me despedir mesmo — conta, olhando para o chão.
Segundo Marcelo, os pais estavam pensando em ampliar a casa onde moravam, para receber os filhos e netos. Genecilde, que trabalhava às noites como cuidadora de idosos, ficou em casa. Na noite de segunda-feira (4), Nego e Gene estavam juntos do casal de idosos Alvaro Pietta, 75 anos, e Beatriz Maria Pietta, 72, e o filho deles Macximiliano Ricardo Pietta, 46, que também perderam a vida nas enchentes na cidade. Sebastião e Genecilde foram enterrados no sábado (9), no Cemitério Moriggi de Roca Sales.
Metalúrgico aposentado, Nego era afeito às lidas na roça, gostava de pescar e cortar lenha para os assados que preparava depois. A acompanhamento perfeita era a salada de maionese da esposa, marca registrada de Gene, apreciada pela família toda. Quando os finais da tarde chegavam, o lazer dos dois consistia em se reunir para tomar chimarrão e, depois, a “cervejinha que não podia faltar”, como revela Marcelo.
— No começo do casamento, eles se separavam e voltavam, separavam e voltavam. Mas, nos últimos dez anos, estavam tranquilos, um bem amigo do outro, se ajudavam no que podiam — relembra.
Gremista fanático, Nego não perdia uma partida do time do coração, seja por rádio ou televisão. Segundo Marcelo, poucas vezes ele viu seu pai tão feliz quanto na conquista da Liberadores da América, em 2017.
— E o pior é que ele estava torcendo pelo Inter este ano. Preferia que um gaúcho ganhasse – diz o filho.
Como toda boa avó, Gene se dedicava em dobro aos netos. Um deles, Artur, seis anos, filho mais velho de Marcelo, foi praticamente criado pelo casal falecido.
— Se a gente o xingasse por alguma coisa sapeca que fizesse, minha mãe o defendia. Era o xodó dela — lembra.