No aniversário de seis anos, GZH traz histórias de pessoas que foram impactadas por reportagens publicadas no jornal digital. Uma dessas reportagens teve como protagonista Silvia Canabarro, que escreveu um artigo sobre a rotina de criação de um filho autista.
A escrita sempre foi um hobby para Silvia Sperling Canabarro, mas passou a ser uma espécie de "terapia". Mãe de um filho autista, a nutricionista conta que a convivência com Otávio, hoje com 19 anos, a tornou mais crítica, ansiosa e realista. O seu olhar a inspirou a anotar depoimentos que foram compartilhados em GZH durante a última década, entre eles, um texto que chama atenção para a necessidade de tolerância na criação de uma pessoa com transtorno do espectro autista (TEA):
— Escrever para mim é uma catarse. Ter meu texto publicado em GZH foi uma forma de aliviar meu coração. Pude compartilhar decepções e ansiedades.
Das notícias sobre eventuais momentos desconfortáveis aos desabafos sobre o tratamento da sociedade pela condição de Otávio, Silvia relata os acontecimentos em formato de prosa para que outras pessoas possam se identificar e perceber que faz parte da vida.
— Eu busco constantemente força e inspiração para seguir adiante. Creio que o meu relato auxiliou outras mães a terem um alento no meio desta tempestade em que a gente se sente náufraga — destacou Silvia, sobre o convívio com um familiar autista.
Olhares mais empáticos
Silvia compartilha textos em um blog — Uma Vida em Poucas Palavras —, mas observa que a visibilidade em GZH atraiu olhares mais empáticos da sociedade, com manifestações de apoio. No passado, ela havia recebido críticas da própria escola onde o filho estudava por contestar o sistema de aprendizagem da instituição.
— Foi-nos dito que seria melhor o Otávio deixar a instituição depois que publiquei um texto (em GZH) dizendo que ele foi rechaçado na escola.
Quando contamos a história de uma pessoa com o problema, ele torna esse problema real, palpável. Aproxima as dores, cria um canal de empatia.
SILVIA CANABARRO
Na ocasião, à época, os pais de Otávio custeavam o acompanhamento de uma monitora exclusiva para ele. Na visão de Silvia e do marido, o tratamento dentro do ambiente escolar não era realizado de maneira eficaz.
— Íamos na escola e ele estava "escanteado" com a monitora, longe dos outros colegas, sem socializar com os demais. Se os responsáveis pelo monitoria faltassem, ele não podia ir para a escola.
As emoções e vivências escritas fazem parte de momentos de relaxamento e alívio para Silvia. Formada em nutrição, ela parou de exercer a profissão para se dedicar integralmente à criação de Otávio. A escrita veio como lazer e terapia.
— Só falar sobre o autismo, descrever a doença, elucida. Só que não aproxima as pessoas, os corações. Quando contamos a história de uma pessoa com o problema, ele torna esse problema real, palpável. Aproxima as dores, cria um canal de empatia. As matérias tiveram esse papel — pontuou Silvia, sobre seus textos publicados em GZH.
Redes sociais são inóspitas
Foram várias as publicações de Silvia em GZH ao longo dos últimos anos. Nos primeiros textos, Otávio ainda era criança. Hoje, quase aos 20 anos, ele continua demandando a devida atenção da família para realizar suas atividades diárias. Silvia opta por não ter redes sociais, por vê-las como lugares inóspitos de convívio. Além do blog e das publicações, ela também leva um adesivo de carro que mostra a condição do filho.
— Esses dias uma vizinha veio até nós para pedir um item de cozinha. Ela chegou na casa do nosso condomínio junto de seu filho, que também é autista. Achei que se tratava de uma grande coincidência, mas, na verdade, ela nos achou por conta do adesivo no nosso carro — recordou Silvia.
Ela acredita que os relatos sobre sua rotina podem ajudar a gerar empatia em relação não só à condição do filho, mas também dos pais.
— Uma matéria não muda a realidade do meu filho, mas eu acredito que ela muda a forma das outras pessoas enxergarem a vida do Otávio e de tantas outras pessoas com autismo — concluiu.
*Produção: Nikolas Mondadori