Às 16h37min01seg o soldado bombeiro se precipita apressado pela abertura da sala de operações. Ele abre a porta do automóvel que ingressa pelo portão e recebe, de um homem, um bebê com o pescoço e os bracinhos moles. Ele vira a criança de bruços sobre o antebraço direito e golpeia as costas da criança com a palma da mão esquerda. Às 16h37min32seg, o socorrista entrega a menina chorosa aos braços da mãe aliviada após o desespero de ver a filha de três meses desvanecer pela incapacidade de respirar.
O desfecho acalentador para uma história emoldurada em contornos dramáticos aconteceu na tarde desta sexta-feira (11), no quartel do 2º Batalhão do Corpo de Bombeiros, em São Leopoldo, no Vale do Sinos.
— Durante a nossa formação praticamos e regularmente participamos de treinamentos para este tipo de situação. Quando chega um carro no quartel, sabemos que se trata de alguma emergência — descreve o autor do socorro, soldado Mateus Penna, 28 anos, dos quais dois são dedicados à atual profissão.
Tendo realizado outros três atendimentos deste tipo, porém feitos por telefone, Penna conta que "saltou" ao ver a bebê no colo de um homem e gritou "ocorrência" antes de realizar o salvamento, numa reação espontânea e segura, a qual evidencia que o treinamento tem sido tão imprescindível, quanto proveitoso.
— Treinamos, pois é uma situação bastante recorrente. Todo socorro quando envolve criança é mais sensível. Toca o coração da gente que trabalha com emergências. Quando dá errado é um golpe no sentimento da gente, mas quando dá certo é uma bênção — define o bombeiro sobre a "manobra de Heimlich", técnica utilizada nestes casos.
Depois da manobra de emergência, visita ao hospital
Após reestabelecer a condição respiratória de Valkyria Verde de Souza, o soldado Mateus Penna seguiu o protocolo e aconselhou a mãe a levar a menina para um exame clínico, para checagem da saúde em decorrência do tempo sem oxigênio.
Na unidade de saúde, a mãe Fernanda da Silva Verde atende o telefone. Ao fundo, o chorinho dengoso de bebê anuncia que tudo corre bem. Ela conta que foram cerca de cinco a sete minutos de deslocamento de sua casa até o quartel, em trajeto acompanhado por dois vizinhos com quem havia, até a ocasião, trocado cumprimentos em encontros eventuais do cotidiano.
— Foram anjos que apareceram. Ela tinha mamado e teve um pequeno refluxo. Nesse momento, falei com ela e percebi que estava diferente, molinha. Não me olhava fixamente. Corri até o carro. Foi quando os vizinhos vieram ajudar. Eu estava desesperada. Um deles dirigiu, o outro segurou a Valkyria — lembra.
A agilidade do bombeiro Penna, em sua manobra, quase não foi vista por Fernanda. Quando ela deixa o banco de trás do automóvel, aos prantos, já reencontra sua pequena reanimada.
— É a melhor sensação do mundo. Vi aquele bombeiro saltando pela porta e pegando minha filha. Quando consegui dar a volta no carro ela já estava voltando pra mim. Ir aos bombeiros foi meu primeiro pensamento, porque é perto da nossa casa. Sou grata demais — desabafa.
À noite, após observação e realização de um raio x dos pulmões como medida de precaução, Valkyria retornou para casa nos braços de Fernanda e do pai, Luis Paulo de Souza.