Foi às margens do Rio dos Sinos, em Caraá, que Airton Pereira, 57 anos, conhecido como Ito, deu vida a um dos seus sonhos: a criação de um camping para colocar o município de 8 mil habitantes, no Litoral Norte, na rota do turismo rural. A estrutura, inaugurada há cerca de três anos, foi arrastada pelo ciclone que atingiu o Estado na última quinta-feira (15).
As águas do Rio dos Sinos, que subiram rapidamente, levaram as cabanas e uma piscina da propriedade. Já Airton foi encontrado morto no início da tarde de segunda-feira (19).
A construção do camping, segundo amigos, teve um custo: a saudade da família. Airton levou a esposa e os três filhos para os Estados Unidos, onde juntou dólares e voltou com recursos. Os familiares ficaram no Exterior, mas o sonho dele era viver com todos em Caraá.
— Semana passada ele me contou que estava trabalhando, mas não aguentava mais de saudade da família, que ia passar mais uma temporada lá e trazer mais uns dólares para se preparar para o próximo verão — conta o advogado Tissiano Jobim.
A última ida aos Estados Unidos, conforme Jobim, foi em 2022. Distante dos familiares, Ito se dedicava à Igreja Adventista e ao futuro do município.
— Ele era apaixonado pelo município de Caraá, apaixonado pela geografia do município, adventista fervoroso, tinha trabalho comunitário muito grande e circulava entre os jovens. Ele sempre ajudava, levava lá para o camping gurizada mais nova que poderia se perder na droga — conta Jobim.
Conforme balanço mais recente da Defesa Civil gaúcha, 15 pessoas morreram em decorrência da passagem do ciclone extratropical pelo Rio Grande do Sul. Caraá foi a cidade com mais vítimas: quatro pessoas mortas na tempestade. Uma pessoa continua desaparecida no município.