Geração de emprego, renda, estrutura de saúde e educação fazem da região norte um dos principais destinos dos migrantes e solicitantes de refúgio no Estado.
Em Passo Fundo, maior município da região norte, o número de venezuelanos aumentou em 80% entre maio e setembro de 2022.
Embora a escolha seja facilitada por fatores como emprego, permanecer na cidade depende de várias questões como o visto de permanência.
Para ajudar neste e em outros serviços como encaminhamento para assistência social e educação, o Balcão do Migrante e Refugiado da Universidade de Passo Fundo (UPF) oferece suporte e um cadastro de pessoas de outros países que escolhem o norte gaúcho para morar.
As principais nacionalidades atendidas são de venezuelanos, haitianos, senegaleses e cubanos de cidades como Passo Fundo, Marau, Tapejara, Erechim e Nonoai.
— Somos um projeto de extensão que regulariza a situação deste público. É um atendimento realizado por estudantes que acolhem migrantes e refugiados de toda a região abrangida pela delegacia da Polícia Federal, que totaliza 123 municípios — explica a coordenadora do Balcão Migrante, Patrícia Noschang.
São atendidas cerca de 30 pessoas por dia, de forma presencial, nas segundas e terças-feiras, das 14h às 17h, por ordem de chegada, no prédio da Faculdade de Direito, pelo WhatsApp (54) 99191-7776 e pelo e-mail balcaomigra@upf.br.
O serviço já se tornou referência na região, para onde muitos migram, devido à grande oferta de vagas de trabalho. Hoje, o ‘Balcão Migra’ (como o projeto é conhecido) é uma das 31 universidades brasileiras que integram a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, iniciativa da Agência da ONU para Refugiados (Acnur) que visa criar uma rede de defesa e garantia dos direitos de refugiados no país.
A UPF também conta com uma parceria inédita junto à Polícia Federal, que garante que 50% dos horários para atender a demanda de confecção de passaportes para migrantes.
Primeira família de venezuelanos chegou em 2018 em Passo Fundo
A família Castillo foi a primeira de venezuelanos a se instalar em Passo Fundo, em 2018. Eles vivem desde que chegaram na mesma casa alugada na Vila Luiza. Nesse período tiveram que aprender sobre a língua, se adaptar à alimentação e buscar colocação no mercado de trabalho. O chefe da família, Alfredo Castillo, vivenciou o que grande parte dos imigrantes enfrenta quando chega ao Brasil. Ele conta que um colega de trabalho não aceitava sua presença:
— O começo foi ruim, não tive acolhida no trabalho, meu colega disse que eu tinha que voltar para meu país, que aqui não era meu lugar. Mas aos poucos fomos nos aproximando. Um dia o abracei e disse que o amava, ele chorou. Hoje ele é meu melhor amigo.
Quatro anos sem apoio dos consulados
O representante da Associação de Venezuelanos em Passo Fundo-Tricolor No Sul, Daniel José Martínez, conta que há quatro anos não conseguem renovar os passaportes ou atualizar os documentos, pois os consulados da Venezuela estão fechados.
— Isso complica os processos de reconhecimento de título universitário, participação em processos eleitorais, entre outras tantas dificuldades que enfrentamos —, explicou Daniel.
Cerca de 70% dos venezuelanos já estão estabelecidos e trabalhando em empresas da cidade ou como prestadores de serviço. O restante é a população idosa ou ainda alguns que estão sem trabalho e recebem benefícios sociais.
Rota migratória
O antropólogo e professor da UPF, Frederico Santos dos Santos, doutor em Antropologia, conta que na última década Passo Fundo tem se tornado rota migratória de muitas pessoas oriundas das Américas como Venezuela e Haiti, bem como de países africanos como Senegal.
— A presença dessas pessoas, com suas práticas culturais (na alimentação, religiosidade, vestimenta, música, idioma) dinamiza a cultura de Passo Fundo. Confere à cidade novas formas de se relacionar com as diferenças, de rever nossas práticas culturais e compreensão de mundo.