Aos 26 anos, Rodrigo da Silva Mendes tem muita história pra contar. Roteiro que vai do drama à comédia romântica natalina: natural de Canoas, ele deixou a região metropolitana de Porto Alegre, em setembro, para tentar a vida em São Paulo. Primeiro foi de ônibus. Encontrou emprego, não se adaptou no trabalho e decidiu mudar de novo. O destino, dessa vez, seria o Rio de Janeiro. Sem dinheiro, iniciou o percurso a pé.
— Caminhei por quatro dias. Cheguei a dormir na rua — recorda.
Na caminhada, admite que a fome se misturava à pensamentos vagos, e uma ideia de que por conta poderia alcançar objetivos que nem para ele estavam claros.
Enquanto tentava chegar à capital fluminense, o andarilho parou em um posto de combustíveis. No local, foi abordado por uma caminhoneira que lhe ofereceu um par de chinelos e comida. Era a pelotense Cleusa Ximendes, 52 anos.
Assim que conversou com o gaúcho, a motorista fixou uma ideia: iria ajudá-lo no trajeto, fosse seguindo ao RJ ou retornando ao Rio Grande do Sul – o rapaz diz que decidiu viajar ao Sudeste em busca de algo diferente, mas admitiu saudade de casa.
— Eu peguei o contato da família, liguei, e descobri que eles não faziam ideia que o Rodrigo tava indo a pé pro Rio de Janeiro. Ele escondia da família pra não preocupar ninguém. De cara já deu pra ver que era um menino bom — conta Cleusa.
A profissional da boleia é conhecida por auxiliar quem encontra na estrada. Ela diz já ter perdido a conta do número de reencontros, em casos semelhantes. Quando não oferece um assento na cabine, tenta comprar passagens nas rodoviárias.
A motorista compartilha o perfil das pessoas perdidas nos seus perfis do Facebook e Instagram.
Trajeto e promessa de emprego
Nas memórias da última semana, ficou marcada a solidariedade entre o homem acolhido e a empatia de quem o socorreu. Uma atitude comprova que a experiência rendeu frutos: Mendes doou a sandália ganha a outra pessoa que cruzava o País a pés descalços.
— Deus me abençoou com ela no meu caminho. Um anjo — define o canoense, sobre a sua salvadora.
Na última quarta-feira (21), os dois saíram do município paulista de Itaquaquecetuba, e o reencontro com a irmã, o sobrinho e o cunhado foi agendado para um dia de script de cinema, a véspera de Natal. No trajeto, recebeu ainda um convite: trabalhar de auxiliar nos próximos carregamentos. A resposta deve ser vista em um futuro próximo, garante a dupla.
Reencontro emocionado
Ao meio-dia desse sábado (24), Caroline da Silva Mendes aguardava pelo irmão, no bairro São José. Levou o marido, Jonatas, e o filho Pedro - o menino de dois anos de idade estava ansioso por rever o dindo.
— O anjo da guarda do Rodrigo trabalhou muito. Vai chegar aqui e pedir férias — brinca a vendedora, garantindo que dará um puxão de orelha no irmão, depois do dia 25.
O abraço se estendeu longamente, assim que Mendes desceu a cabine. O único que segurou o choro foi Pedro.
— Não tem palavras, só alegria. Agradecer a Deus e a Cleusa cruzar a vida dele, e estarmos juntos de novo, no dia de Natal — complementa Caroline.