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Famílias organizam ato e pedem educação inclusiva para autistas após caso de criança que teria sido agredida por professora 

Movimento está marcado para quarta-feira e prevê manifestação em frente ao prédio do Ministério Público

A história do aluno autista de seis anos que teria sido agredido pela professora durante uma crise reforçou a mobilização de famílias que pedem respeito e inclusão de verdade nas escolas para crianças com transtorno do espectro autista (TEA). Um ato está marcado para quarta-feira (26), em Porto Alegre.

Há 10 dias, GZH revelou o caso do menino que teve a toalha de lanche pressionada contra o rosto e contra a boca pela professora. A docente relatou detalhes de como agiu em um áudio para colegas do Colégio Romano Senhor Bom Jesus. Ela disse, inclusive, que o aluno, deitado no chão, gritava: "não me mata, profe, não me mata!"

Os detalhes da fala da docente chocaram a comunidade escolar. A professora Vanessa Maciel Pereira foi demitida no dia seguinte ao fato, ocorrido em 11 de agosto. A direção do colégio registrou ocorrência na polícia. O caso foi apurado pela Delegacia de Combate à Intolerância. A professora foi indiciada por "praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência", crime previsto na Lei Brasileira de Inclusão, e por lesão corporal.

— Este caso foi o estopim de uma luta que já travamos há mais tempo. O (diz o nome do aluno agredido, que GZH preserva) é só mais uma criança autista de tantas que sofrem violência física e psicológica — disse Érika Rocha, presidente do projeto social Angelina Luz.

A fim de organizar um ato do intitulado Movimento da Educação Inclusiva, o grupo lançou formulários para denúncias. Em três dias, 102 famílias preencheram o material relatando problemas com os filhos em escolas, especialmente na Capital e demais cidades da Região Metropolitana. Segundo Érika, cerca de 500 famílias estão mobilizadas para participar da ação na próxima quarta-feira (26), que prevê manifestação em frente ao prédio do Ministério Público, na Capital:

— Nossa ideia é reunir todas as queixas em um dossiê e entregar ao Ministério Público. Somos negligenciados na Saúde e na Educação, em direitos assegurados pela Constituição.

A família do menino agredido pela professora tenta se recuperar da tristeza pela descoberta do que o aluno passou na escola e pede justiça. Logo depois do episódio, mesmo depois de ter dado depoimento à polícia, a mãe do menino, uma contadora de 44 anos, não havia ouvido o áudio feito pela professora. E tinha decidido deixar o filho na escola até o final do ano. Mas depois que o áudio foi tornado público, ela agiu:

— Tirei ele da escola imediatamente depois de saber o conteúdo do áudio. Estou com atestado médico e ele, fazendo tratamentos. Acho que a escola foi omissa e escondeu fatos de mim. Meu filho usa toalhinhas de Minions, foi a toalha que a professora usou contra ele. Tem uma caixa dessas toalhas em casa. E ele passou a desenhar Minions tristes e machucados, expressando o trauma que sofreu. Agora, estou em busca de escola para ele e não está fácil.

Em um trecho do áudio, a professora contou:

— Ele surtou hoje, gurias, só porque eu falei que o casaco não era dele, era de um outro colega, nós tava (sic) voltando do pátio, guardando os casacos na mochila, e ele veio com tudo para cima de mim, deu um puxão na minha roupa, cuspiu horrores, que vocês não têm noção. Aí, eu tinha pego antes a toalhinha de lanche dele e a lancheira, sabe o que que eu fiz, gurias? Eu me descontrolei de um jeito assim, ó, não é nem descontrole, tá, é que eu já tô (palavrão), já, não aguento mais a cara daquele inferno daquele guri, eu peguei a toalhinha dele, cada vez que ele vinha pra cima de mim me cuspir, eu enfiava aquele pano na cara dele.

Contrapontos

O que disse Cristiane Weizenmann, secretária-geral da Rede Romano
Não vamos nos manifestar.

O que disse Carlo Velho Masi, advogado da professora Vanessa Maciel Pereira

A defesa técnica examinou detalhadamente os autos da investigação e constatou que não foi produzida prova alguma de qualquer prática criminosa por parte da professora. As acusações se baseiam em depoimentos opinativos e especulativos de colegas de trabalho que defendem os interesses do colégio onde os fatos ocorreram. Referente ao áudio encaminhado a grupo de WhatsApp, a professora reconhece que houve uma manifestação irrefletida e equivocada de sua parte, da qual se arrepende e pela qual pede sinceras desculpas, na medida que sua intenção não foi ofender, mas chamar atenção para a delicada situação que vinha vivenciando. Em outros áudios, trazidos pela defesa e não divulgados à imprensa, a professora relata reiteradas situações em que reportava os surtos do aluno à supervisão e buscava contorná-los. Em toda sua carreira, Vanessa jamais descriminou qualquer aluno, muito menos agrediu fisicamente. No dia 11/08/2022, em meio a uma crise nervosa do aluno com Transtorno do Espectro Autista, a professora foi obrigada a se defender, com o uso moderado dos meios necessários, sem causar qualquer lesão ao menor. A perceptível indignação em seu relato evidentemente não era destinada ao menor, que não tem nenhuma culpa da sua condição; mas decorre, isso sim, de um contexto de vários meses solicitando providências aos responsáveis legais e auxílio do colégio para lidar com os constantes surtos e episódios de agressividade. No entanto, mesmo sem uma orientação uniforme sobre como proceder nos momentos de surto, Vanessa sempre procurou incluir o aluno com TEA em todas as atividades escolares, respeitando suas singularidades e participando ativamente no seu desenvolvimento, tal como sempre fez com todos os seus demais alunos, indistintamente. A defesa permanece colaborando com as autoridades públicas e apresentará nos autos elementos novos que deixam absolutamente claras todas essas alegações. 

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