O volume de imóveis retomados por inadimplência no financiamento habitacional sofreu queda acentuada no período da pandemia, aponta a Caixa Econômica Federal — maior financiadora do setor no país, com 68% do mercado. Para especialistas, medidas como a pausa emergencial no pagamento das prestações foram decisivas, mas a retomada das regras normais nos próximos meses merecem atenção.
GZH solicitou os dados dos últimos cinco anos via Lei de Acesso à Informação (LAI), já que os números não estavam disponíveis para consulta. A queda nacional de 2019 para 2020, quando emergiu a pandemia de covid-19, foi de 84,35%. De 19.792, caiu para 3.103 o número de imóveis financiados pela Caixa tomados de volta por falta de pagamento.
Nesse mesmo período, no Rio Grande do Sul, a redução foi de 48% — foram 1.083 em 2019 e 563 em 2020. Considerando os anos anteriores, os número de 2020, e parcialmente de 2021 (até setembro), claramente não seguiram a tendência (veja abaixo).
O procedimento de retomada está previsto nos contratos. Por ser via cartório, não há disputa judicial, e por isso a reincorporação é rápida, pegando muitas vezes de surpresa mutuários que não procuram a instituição financiadora para uma renegociação após três meses de atraso. Nessa fase, o banco extingue o contrato e fica livre para vender novamente o imóvel.
Mas, segundo especialistas, ficou evidente que a Caixa arrefeceu esse processo durante a pandemia, quando implementou a pausa emergencial no pagamento. Em 2020, o banco ofereceu até seis meses de parada nas prestações da casa própria para ajudar os clientes a enfrentar a crise da pandemia de coronavírus.
— De fato, é notória a redução de retomada de imóveis por parte da Caixa Federal durante a pandemia. Agora, quando acabar o alívio dado, é de se esperar um aumento nesses números — alerta Anderson Machado, diretor da Associação dos Mutuários e Moradores das Regiões Sul e Sudeste (AMMRS).
Valor total do imóvel aumenta
Em junho deste ano, a Caixa ofereceu a possibilidade de pagamento parcial — redução de até 25% da parcela por até seis meses, de 25% a 74,99% por até três meses ou diminuição de mais de 75% para quem comprovar perda de renda, passando ainda por avaliação do banco. Os valores não pagos são incorporados ao saldo devedor — juros e prazo contratados inicialmente não mudam. A consequência direta é aumento no valor total pago pelo imóvel.
— Não foi somente a Caixa, outros bancos também aliviaram a retomada, alguns pausaram prestações por três meses e outros foram prorrogando ao longo do ano. Como algumas dessas medidas ainda permanecem, segue o efeito neste ano. Para 2022, imagino que esse procedimento volte a crescer, ainda mais considerando o atual cenário econômico — avalia o analista de investimentos e educador financeiro Adriano Severo
A Caixa informa que não faz uma retomada automática após três meses de inadimplência e sempre inicia um processo de renegociação com os mutuários nessas situações. O banco afirma que oferece alternativas negociais a seus clientes por meio do aplicativo da Habitação ou ligação telefônica no 0800-104-0104 (4004-0104 nas capitais). Mais informações também podem ser obtidas neste site.