Mais de 6,7 mil quilômetros separam, atualmente, Aness Akanyachum, 25 anos, e sua esposa, Naida Adamu, 23, da filha mais velha, Khadijah, nove anos. O casal mora no município de Portão, na Região Metropolitana. A menina ainda vive em Acra, a capital de Gana, na África, país de origem da família, com a avó paterna. Organizada por voluntários, uma vaquinha online está em andamento para arrecadar R$ 6 mil, valor necessário para reunir a família.
Essa história começa há quase uma década, e é contada com dificuldade por Aness, que entende bem o português, mas fala com sotaque carregado. Ele e Naida casaram-se ainda muito jovens. Em seguida, tiveram Khadijah. Órfão de pai, o jovem tinha dificuldades em arrumar emprego e ajudar no sustento da mãe, da esposa e da filha. Um de seus irmãos, que já vivia no Brasil (e faleceu há dois anos), lhe disse que, aqui, havia mais oportunidades de trabalho, e ofereceu-se para pagar a sua passagem.
– Vim porque lá não tinha serviço. Vim para trabalhar e ajudar minha família. Lá não tem emprego, não tem nada – conta Aness.
Nestes oito anos, o ganês jamais retornou à sua terra natal, nem para uma visita. No Brasil, ele fixou-se em Portão, onde já passou por diversos empregos. Mesmo com dificuldades, sempre mandou dinheiro para sua mãe. Depois de anos de trabalho, em 2019, conseguiu juntar uma quantia para reunir a família novamente, mas, mais uma vez, não foi possível.
– Quando eu fiz os papéis, queria trazer as duas juntas (esposa e filha), mas a passagem era muito cara. Então, decidi trazer só minha esposa, e depois trazer a filha – relata.
Naida chegou no ano passado. Os dois vivem em uma casa simples no bairro Bela Vista. Em fevereiro, com Naida grávida da segunda filha do casal, Aness perdeu o emprego como auxiliar de serviços gerais. Nos meses seguintes, a família viveu momentos difíceis.
Saudade da mãe
Há cerca de três meses, uma vizinha percebeu a situação de Aness e Naida, e expôs, nas redes sociais, que eles ainda não tinham fraldas e roupas para a filha, que chegaria logo. É aí que os voluntários passam a fazer parte da história.
Ana Claudia da Silva Dias, de Novo Hamburgo, soube do caso pela internet. Comovida, reuniu algumas pessoas dispostas a ajudar e, juntos, conseguiram doações: fraldas, roupas para o bebê, leite, alimentos e até móveis. Desde então, Ana e o outros voluntários acompanham a situação do casal.
A caçula, Leila, nasceu há dois meses. Em seguida, Aness recuperou seu emprego, e pôde voltar a sustentar sua família. Mas, para um final feliz, ainda, falta uma coisa: Khadijah. Apenas com o salário, Aness ainda levaria alguns anos para levantar o valor necessário para a passagem.
– Fui até a casa deles algumas vezes, sei que são pessoas boas, trabalhadoras. Com o emprego de volta, o Aness consegue colocar comida na mesa, mas não consegue trazer a filha. Quando eles se falam por vídeo, a menina chora muito, tem saudade da mãe, principalmente. E a mãe, aqui, também sente saudade da filha. Por isso, decidimos iniciar a campanha – conta Ana.
Aness completa:
– Minha filha fica com a minha mãe, mas ela não tem dinheiro. Eu mando, mas é pouco. Naida sente muita saudade, quero muito trazer ela pra cá, para uma vida nova.
Prazo apertado
A vaquinha virtual começou há cerca de dois meses, com o objetivo de arrecadar R$ 6 mil, valor necessário para trazer a pequena Khadijah até o Brasil. Até agora, foram arrecadados R$ 2,8 mil. Mas a família tem pressa.
Um conterrâneo e amigo de Aness foi para Gana há alguns meses, visitar a família. Ele não conseguiu retornar, em função da pandemia. Mas, agora, com o aeroporto já aberto, ele pretende voltar em outubro. E se dispôs a trazer Khadijah.
– Ele mora aqui faz tempo, como eu, mas foi visitar a família. Perguntei se ele traria a minha filha, e ele falou que sim. Mas preciso pagar a passagem. Os papéis estão encaminhados, mas preciso de ajuda – diz Aness.
Ana reconhece a dificuldade em levantar a quantia durante uma crise tão grande. Mas não perde as esperanças:
– Tem tanta gente passando necessidade, que muitos não se comovem com uma viagem. Eu entendo. Mas, quem puder contribuir, vai ajudar uma filha a voltar para perto da mãe.