Quando a arte, importante por si só, traz consigo pontos como a reeducação sobre consumo e cuidados com o meio ambiente, além de uma dose generosa de solidariedade, ganha ainda mais relevância. E é isso que o Centro Social Marista Mario Quintana, de Gravataí, está colocando em prática com um projeto batizado de Arte Solidária. Por meio da ação, quadros produzidos por alunos da instituição estão sendo trocados por doações em dinheiro. O valor arrecadado será usado para comprar botijões e ajudar as famílias dos alunos que, em sua maioria, vivem em regiões de vulnerabilidade social.
O centro recebe alunos encaminhados pela assistência social do município da Região Metropolitana, como explica Joice Michels, secretária adjunta da Secretaria Municipal da Família, Cidadania e Assistência Social. As crianças estudam na rede pública e frequentam o local no turno inverso às aulas – atualmente, as atividades presenciais estão suspensas devido à pandemia. Lá, além de café da manhã ou da tarde e do almoço, os estudantes de seis a 15 anos ainda participam de atividades como dança, esporte, culinária, computação, consumo sustentável, entre outras.
Os meses de janeiro e fevereiro, quando as escolas entram em férias, são mais tranquilos. Nesse período, a criatividade da gurizada é ainda mais incentivada no centro social por meio da produção dos quadros e peças feitos a partir do reaproveitamento de materiais que, normalmente, iriam parar no lixo.
O acervo fica na instituição, mas é colocado à venda quando alguma ação é pensada pela coordenação local. Em 2017, por exemplo, os valores arrecadados com a venda ajudaram a colocar ar-condicionado em várias salas de aula. O acervo produzido neste ano estava guardado para uma ocasião em que fosse necessário o Arte Solidária entrar em ação. E a pandemia de coronavírus foi o estalo para a ação entrar em prática.
– Temos 165 alunos aqui. Todos de famílias carentes. Nesse período, temos visto que muitas doações de alimentos surgem, mas uma coisa que pouco aparece, mas também é necessária, é o gás. Um botijão costuma ser caro e para muitas dessas famílias, o fogo pode servir até para esquentar água para o banho. Por isso, resolvemos adotar a ideia de trocar os quadros por vale-gás – conta a coordenadora do Centro Social Marista Mario Quintana, Berenice Saut.
Objetivo
A coordenadora pontua que famílias contempladas que tenham conseguido doações de gás poderão usar o valor do vale na compra de alimentos também, já que o objetivo final é auxiliar. Foram cerca de 70 quadros produzidos que estão reunidos em uma "galeria online", na página do Facebook da instituição. O objetivo é arrecadar o suficiente para comprar 90 botijões até o dia 17 de julho, próxima sexta-feira. Os trabalhos iniciaram na quarta-feira e já tem surpreendido a organização, conforme Berenice:
– As pessoas estão olhando e demostrando o interesse em ajudar, está sendo incrível.
Quem quiser um quadro, pode olhar na galeria online e deixar um comentário demonstrando o interesse. A equipe do centro entrará em contato. Cada quadro tem um valor, que pode variar entre R$ 30 e R$ 150, mas Berenice diz que é possível negociar, já que a ideia é ajudar as famílias dos alunos. Além disso, ela diz que algumas pessoas apenas doam, sem pedir as obras em troca. Portanto, toda ajuda, de qualquer valor, é bem-vinda.
Transformação de vida
A coordenadora do centro ressalta como a transformação de itens que iriam fora em arte afeta a vida das crianças e jovens. A oportunidade de os alunos saberem que aquilo que produziram estará exposto na casa de alguém é fazê-los entender que podem mudar algo, que não precisam viver na margem da sociedade, mas sim, se inserir nela.
– É um trabalho de formiguinha, de criar essa consciência nas crianças ano a ano. Mas é recompensador quando vemos que dá certo – compartilha Berenice.
Uma das artistas do centro social é Paola Mariana Dias Silva, 14 anos. Entre as mais de 70 obras, ela é responsável por duas, onde representa as formas de um flamingo e de uma garrafa. Mãe de Paola, a dona de casa Iraci Beatriz da Silveira dias, 60 anos, fala que a menina adora ir ao local no turno inverso. Agora, com a pandemia, tem até se queixado do tempo demais em casa. Para a pequena artista, a oportunidade de ver sua obra indo decorar a casa de alguém e ainda ajudar colegas que precisam é gratificante:
– É muito muito legal o incentivo que eles nos dão para fazer esses trabalhos. Vamos ajudar muita gente através das nossas obras.
Como ajudar
- /// É possível conferir os quadros e deixar um comentário demonstrando a intenção de adquiri-lo na galeria online neste link
- /// Dúvidas e outras maneiras de doar podem ser esclarecidas pelo telefone. O contato é com Berenice, no (51) 99812-7178, ou Silvia, no (51) 98184-4299.