Quem passa rapidamente pela prédio onde vive Vilma Freitas dos Santos, 61 anos, pode achar estranho os penduricalhos na grade do condomínio. Mas, olhando com mais cuidado, é possível ver a boa ação lançada pela moradora do bairro Azenha, em Porto Alegre. São várias unidades de máscaras de tecido, já embaladas e higienizadas, que ficam ali a espera de quem passa e não tem condições de adquirir o equipamento.
Segundo as contas da própria Vilma, ela já distribuiu cerca de 300 unidades nos últimos dois meses. E com o sucesso da iniciativa, resolveu aumentar a produção por meio do voluntariado.
A iniciativa de produzir máscaras surgiu depois que sua filha Taís, 24 anos, saiu de casa e esqueceu de levar a proteção. Na rua, precisou pagar R$ 10 por uma máscara. Ao ouvir a história, Vilma pensou em quem não tem como gastar parte de seus recursos para conseguir uma máscara.
Cuidadora há 11 anos, ela teve de largar o trabalho com a chegada da pandemia – como faz parte do grupo de risco, deixou de usar o transporte coletivo que a levava até o serviço. O tempo ocioso em casa começou a lhe afetar psicologicamente, gerando descontentamento. A oportunidade de produzir as máscaras foi uma injeção de ânimo. Começou fazendo algumas para a família, com retalhos de roupas que seriam doadas.
– Depois, comecei a ver que passava muita gente sem máscara aqui na rua. Pensei que, talvez, não fosse por descuido, mas só por não poderem comprar. Dividi a ideia de pendurar algumas na grade com minha família e me deram muito apoio – conta ela, que já faz a distribuição no varal improvisado há cerca de dois meses.
Projeto
A ação de Vilma ainda ganhou novos ares recentemente, quando a filha, que é estagiária no Sesc, sugeriu que ela participasse de um projeto da entidade, o Envolva-se, que incentiva ações solidárias durante a pandemia. Dentro do projeto, há a iniciativa Amor em Forma de Máscaras, que distribui tecidos, linhas e elásticos para que voluntários produzam as peças.
Com isso, além das cerca de 10 unidades que ela pendura na grade de seu prédio todos os dias, outras 100 máscaras são entregues semanalmente ao Sesc, que faz a distribuição para outras pessoas que necessitam do item. Conforme a entidade, o projeto ocorre em diversas regiões do Estado e já soma mais de 8 mil peças entregues.
– Eu estou me sentindo muito melhor desde que comecei a fazer estas máscaras. É bom saber que estou ajudando de algum modo, além de ocupar a cabeça durante o tempo que fico só em casa – comemora.
Isolamento e orgulho dos filhos
Vilma tem várias realidades geradas pela pandemia dentro de casa. Ela precisou deixar o emprego, mas o marido, Ivan, 54 anos, que é caminhoneiro, segue trabalhando.
A filha que viveu a situação que serviu de inspiração para a mãe também segue na labuta. No apartamento da família, ainda há mais um filho, Tales, 32 anos. Nele, Vilma vê a dura realidade de quem está na linha de frente do combate ao coronavírus. Médico, ele trabalha em Bento Gonçalves, mas ainda vive no apartamento com a família. Porém, a pandemia mudou os costumes. Em casa, Tales fica somente em seu quarto, evitando contato com a mãe.
– A gente conversa por telefone, mesmo dentro de casa. Eu sinto muito falta de abraçar ele, mas, ao mesmo tempo, tenho orgulho pelo trabalho que ele está fazendo, assim como da minha filha. E acho que eles também – brinca Vilma, orgulhosa da união em casa.
Como ajudar
/// Em Porto Alegre, quem quiser contribuir com material para a confecção ou com máscaras prontas para serem distribuídas a entidades sociais, pode obter informações pelo telefone (51) 3224-0538.