O Centro de Operação do Sistema da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) registrou quedas de até 36,5% na demanda de fornecimento no período de quarentena no Rio Grande do Sul, que se iniciou em 19 de março, via decreto do governador Eduardo Leite, como resposta à pandemia de coronavírus. Um dos indicadores do volume de atividade econômica, o consumo de energia mostra que o setor produtivo foi, de fato, atingido pelas medidas de enfrentamento à covid-19.
As quedas mais acentuadas, tanto na média quanto no pico, foram registradas na última sexta-feira (3). Nesta data, a demanda média das 24 horas do dia teve queda de 32,6%, em comparação ao consumo dos dias úteis da primeira quinzena de março, quando não havia quarentena. Em relação ao pico de energia utilizada, o dia 3 de abril registrou a retração de 36,5% em relação ao 13 de março, também uma sexta-feira.
As análises de consumo dentro dos períodos de validade da quarentena também indicam que, quanto mais se alongam as restrições de circulação, maior a redução da demanda por energia. A segunda semana completa de quarentena, por exemplo, apresentou retração de 4,8% no consumo médio de energia, em comparação com a primeira.
Fenômeno semelhante se observa aos finais de semana. No último domingo (5), a demanda média decresceu 16,51%, em comparação ao domingo anterior (29). A CEEE pondera que, neste caso, parte da queda se justifica pela diminuição da temperatura no Rio Grande do Sul, o que reduz o uso de aparelhos de ar-condicionado e ventiladores.
Os dados se referem a todo o Rio Grande do Sul, incluindo no cálculo não apenas clientes da CEEE, mas também de outras concessionárias e permissionárias do sistema elétrico.
Indústrias pagam a conta conforme contratos
O cenário é preocupante para o setor empresarial. As indústrias, em geral, têm sistema de pagamento de energia diferente do consumidor residencial. Enquanto as pessoas quitam o consumo aferido mensalmente no relógio das casas, nas indústrias é usado o modelo horosazonal, com energia mais cara nos horários de pico e mais barata nos demais. Nessa modalidade, as empresas precisam fazer contratos de demanda, indicando o quanto de energia elas irão consumir em médio e longo prazo. Agora, no período de quarentena, em que muitas indústrias estão paradas ou com capacidade operacional reduzida, a energia contratada, ainda que não consumida, deverá ser cobrada.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) se reuniu com a direção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para apresentar propostas que reduzam os prejuízos.
— Conforme a Aneel, passa de R$ 1,5 bilhão o valor de energia contratada pela indústria que não será empregada no país. O que estamos propondo é que o governo federal emita títulos da dívida pública para financiar três contas de energia da indústria, do comércio, do agronegócio e do ramo doméstico também — diz Edilson Deitos, coordenador do grupo temático de energia da Fiergs.
Ele explica que, pela proposta da entidade, o auxílio da União não seria a fundo perdido. A devolução do dinheiro aos cofres públicos ocorreria de forma diluída em 12 parcelas futuras, com correção.
— Pelos nossos cálculos, a indústria está com redução de 50% no consumo de energia. E aumentou o residencial, já que as pessoas estão mais em casa. É a primeira vez que enfrentamos um problema assim, o momento é de termos lucidez, com todo mundo cedendo um pouco para que ninguém fique pelo caminho. O que estamos pedindo para as distribuidoras e geradoras é que não queiram garantir somente a parte delas. Com o financiamento, garantiremos a liquidez — afirma Deitos.