O canteiro de obras já mostra a nova cara da Raul Brasil, colégio que ficou nacionalmente conhecido por ter sido alvo de um massacre que completa um ano nesta sexta-feira (13). Com 90% da reforma concluída, o colégio de Suzano quer virar a página do episódio que abalou alunos, professores e moradores da cidade da Grande São Paulo.
Na manhã desta segunda (9), a Folha de S.Paulo e outros veículos de imprensa conheceram de perto as intervenções que já duram cinco meses e estão sendo feitas em pouco mais de 2 mil metros quadrados de área do colégio. O cronograma inicial previa a entrega do colégio reformado até o final deste mês, o que não será cumprido, segundo Rossieli Soares, secretário de Educação da gestão de João Doria (PSDB).
— Por causa da chuva, a obra só ficará pronta em meados de abril — disse.
Além de novos blocos, de arquitetura típica de escola pública, a reforma tem buscado dar nova roupagem aos espaços em que alunos e professores foram mortos a tiros.
Naquele 13 de março de 2019, o ex-aluno Guilherme Taucci, 17, e Luiz Henrique de Castro, 25, entraram no colégio armados e executaram o atentado. Eles aproveitaram o intervalo das aulas e mataram a tiros cinco estudantes e duas funcionárias. Antes de chegar à escola, já haviam matado um empresário, tio de Guilherme. Ao final do massacre e percebendo a chegada da polícia, Guilherme matou seu comparsa e se suicidou.
A principal mudança ocorreu no portão de entrada dos alunos. A antiga estrutura, por onde os atiradores tiveram acesso à escola pela Rua Otávio Miguel da Silva, foi desativada. Após a reforma, os estudantes terão acesso ao colégio pela Rua José Garcia de Souza.
Outro corredor será construído ao lado para uso exclusivo de quem não for da comunidade escolar. O movimento de alunos, professores e pessoas de fora da escola será monitorado por agentes de segurança e por um sistema de câmeras.
Já na entrada, os alunos encontrarão a quadra esportiva coberta, do lado esquerdo, que será ampliada e ganhará duas outras miniquadras para a prática de basquete. E do lado direito, o novo prédio da secretaria, com salas ampliadas para o trabalho pedagógico dos professores e para os serviços de atendimento psicológico. Ao lado dessa nova construção, outra, com estrutura multiuso, foi pensada para dar lugar a mais salas de aula e abrigará até um tatame móvel.
A reforma também atingiu o refeitório do colégio, um dos locais em que os atiradores fizeram mais vítimas. A cantina está sendo erguida do zero e mudou de lugar. A cozinha e os banheiros foram ampliados. O projeto também contemplou a existência de uma ampla área aberta de convivência, com bancos e árvores — entre elas, cerejeiras.
No bloco por onde os atiradores tiveram acesso ao colégio, além de o portão de entrada ter sido desativado, será construída uma biblioteca com espaço para um número maior de obras literárias. Também será erguido um laboratório maker, de 70 metros quadrados, equipado com 24 notebooks, aparelho de TV e impressora 3D.
Até a conclusão das obras, os 2,3 mil estudantes — do ensino fundamental 2, do médio e do Centro de Línguas —, estão alocados em salas do campus da Faculdade Piaget, distante a cerca de 1 quilômetro da Raul Brasil ou 16 minutos de caminhada. A secretaria de Educação arca apenas com o aluguel e custos de água e energia elétrica do campus — orçados em R$ 44 mil por mês.
A captação dos recursos para a reforma da Raul Brasil ficou sob o guarda-chuva do Instituto Ecofuturo, mantido pela Suzano, companhia do segmento de papel e celulose. Além da entidade, as empresas International Paper do Brasil, John Deere, Komatsu do Brasil, MRV Engenharia, Nadir Figueiredo, Paradise Golf Resort de Mogi, PCN Suzano, Qualical e a Sanofi investiram R$ 3,1 milhões nas obras. Os projetos de paisagismo e arquitetura são dos escritórios de Roberto Riscala e Meg Valau. A obra é tocada pela Athié Wohnrath, empresa de arquitetura que também executa obras.
Reforma das escolas paulistas
Rossieli disse ainda que a sua gestão se esforça para melhorar a estrutura das demais escolas. Cerca de 1.384 unidades estão passando por pequenas adequações, uma das ações do projeto "Escola Mais Bonita". O maior desafio da atual gestão será estruturar o Conviva SP, programa que prevê atacar ocorrências de bullying, automutilação e suicídio entre os estudantes.
Reportagem da Folha mostrou que as escolas da rede pública paulista registraram entre janeiro e setembro do ano passado 1.145 casos de bullying. Destes, 23 serão investigados pela Polícia Civil. O próprio Rossieli diz que o número não retrata a realidade por causa da subnotificação e problemas no registro das ocorrências.
Em novembro, um questionário foi aplicado em todas as 5,4 mil escolas da rede pública paulista. Os resultados obtidos entre os respondentes vão servir de base para a criação de estratégias pela melhoria do clima das escolas, a principal meta do programa.
Uma das iniciativas é formar equipes de ajuda entre os próprios estudantes para resolver as ocorrências que pesam a rotina de estudos e vivência escolar.