A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Canoas conclui nos próximos dias inquérito no qual uma babá é suspeita de dopar dois irmãos gêmeos de três anos e 11 meses com medicamento usado como calmante para diminuir a ansiedade. Laudo do Centro de Informação Toxicológica da Secretaria Estadual da Saúde constatou intoxicação por benzodiazepínicos no sangue dos meninos.
As crianças passaram três dias internadas em estado grave e, conforme o delegado Pablo Queiroz Rocha, correram risco de morrer. A babá tem 39 anos, é técnica em enfermagem e será indiciada por lesão corporal grave e omissão de socorro, além de furto de medicamento, pois admitiu à polícia que pegou o ansiolítico em uma clínica onde trabalha.
O caso ocorreu no começo da noite de 8 de novembro, uma sexta-feira, em um condomínio da cidade. A técnica em enfermagem passaria o final de semana cuidando das crianças, em substituição à filha dela, de 21 anos, babá em tempo integral, mas que naquele dia teve de faltar ao serviço.
Imagens de câmeras de segurança do residencial mostram os meninos tropeçando e caindo no chão a todo instante, batendo com a cabeça em brinquedos e até em uma cerca enquanto tentavam brincar em uma pracinha. Na maior parte dos 22 minutos de imagens, a mulher está sentada.
Depois, em outra cena, a mulher aparece carregando as crianças para casa. Os meninos mal conseguem caminhar, e a babá os arrasta. É possível ver que ela também leva algo nas mãos. Seriam copos que continham suco de uva com calmante ingeridos pelos gêmeos, conforme a polícia.
O delegado conta que a mãe dos gêmeos, uma advogada, havia saído para comprar lanches e, ao ver os filhos naquele estado tentou reanimá-los com um banho, mas não conseguiu.
— Os meninos chegaram em casa sem tênis. A mãe os chamava pelo nome e não respondiam. Pareciam profundamente embriagados — afirma o delegado Rocha.
De imediato, a advogada levou as crianças para um hospital local. Médicos diagnosticaram a gravidade do caso, e os irmãos foram levados para a Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
— Havia hipótese de uma das crianças morrer a qualquer momento. Depois de 48 horas na UTI, ainda não caminhavam — afirma o delegado.
Em entrevista ao G1 RS, a mãe dos meninos disse que um dos filhos passou dois dias sem dormir e precisou ser amarrado:
— Estava muito agitado, via bichinhos, falava muita coisa desconecta.
Após a confirmação da presença de benzodiazepínicos no sangue dos meninos, a polícia passou a investigar o caso. Em um primeiro momento, a desconfiança era de ingestão involuntária de remédio. As crianças poderiam ter pego de algum familiar, mas nenhum parente utiliza a substância.
A suspeita, então, direcionou-se à babá, que teria tido comportamento arredio perante à polícia e demonstrado muita preocupação com as crianças.
—A primeira coisa que ela fez quando voltou da pracinha foi lavar os copinhos de suco para ocultar provas. Depois, ficou na casa da família, mandando, insistentemente, mensagens para a mãe dos meninos que estava no hospital, querendo saber o estado de saúde deles.
A polícia solicitou à Justiça ordem de busca e apreensão na casa da babá e encontrou em um armário sacos plásticos com medicamentos e comprimidos esmagados. De acordo com o delegado, é a mesma substância encontrada no sangue dos gêmeos. Ao depor, a babá negou que tenha dopado os meninos, sugerindo que as crianças poderiam ter pego o remédio da bolsa dela, e confessou o furtou de remédios da clínica de recuperação de dependentes químicos onde trabalha, pois tem hábito de se automedicar.
— O comportamento da babá e as provas colhidas, nos dão a convicção de que foi crime doloso. Se fosse ingestão acidental de remédio, o mais lógico seria um das crianças tomar, não as duas — afirma o delegado.
O nome da suspeita não foi divulgado pela Polícia Civil. Ela responderá ao inquérito policial em liberdade. GaúchaZH não divulga o nome dos meninos e de seus familiares para não expô-los.
Colaborou: Jonas Campos