Um evento movimentou a Praça da Juventude, em Cachoeirinha, neste domingo (21). O espaço, localizado no bairro Granja Esperança, foi palco da primeira edição do Arte Suburbana. Como este é o mês da mulher negra — a data é comemorada no dia 27 de julho no Brasil —, foram elas as escolhidas para serem tema central das discussões. O encontro foi idealizado pelos artistas Dana Farias e Ju Fidelis, integrantes do grupo musical Subúrbio Black, fundado em 2015.
— Nós somos de Cachoeirinha, por isso, resolvemos fazer o evento aqui. É uma cidade sem muitos eventos culturais voltados para a cultura negra, achamos que seria interessante —explica a artista.
Dana conta que o envolvimento dela com a cena cultural da Região Metropolitana já é forte. Por isso, entre shows, saraus e outros eventos, surgiu a ideia do Arte Suburbana. A projeção dela é para que o encontro se repita a cada dois meses, sempre com um tema central, que dá o tom da roda de conversa que abre o dia. Depois, ocorrem oficinas, desfiles e apresentações musicais. Além disso, feiras de artesanato movimentam o espaço.
— Desta vez, centralizamos na mulher negra. Teremos outros temas e locais onde a festa irá ocorrer — projeta Dana.
Neste domingo, o público que costuma frequentar a Praça da Juventude também aproveitou para circular pelos estandes com produtos voltados para a mulher negra, como brincos, roupas, turbantes e adereços para o cabelo.
Além disso, a roda de conversa teve como tema a saúde da mulher negra. Ao longo da tarde, ainda foram oferecidas oficinas para montagem de turbantes e um desfile de roupas com estampas e tecidos vindos do continente africano. Artistas convidados por Dana e Ju compareceram para animar a festa, que durou até a noite.
Valorização de talentos
Para a artista visual Dandara da Cruz Ennes, 28 anos, o evento foi uma oportunidade para expor o trabalho que ela realiza na marca que criou em 2015. Formada em administração, ela retira seu sustento da confecção de brincos, colares, adesivos e pinturas, entre outros materiais gráficos. Segundo Dandara, a participação no evento veio por meio de um convite durante outra feira na qual ela estava expondo seu produtos. A artista elogia a tentativa de centralizar o tema do evento na mulher negra:
— A minha marca é construída em cima disso. É importante trazer autoestima e protagonismo para a mulher negra, que sempre precisa lutar para conquistar qualquer espaço na sociedade.
Segundo a organização, mais de cem pessoas estiveram no local exclusivamente para participar do evento realizado na Praça da Juventude _ sem contar o público que estava no espaço e aproveitou para conferir as atrações.
De Cabo Verde para o Brasil
Foi de uma depressão causada pela distância de casa que a socióloga Sadine Correia, 29 anos, tirou forças para criar sua marca de roupas. Vinda de Cabo Verde, no continente africano, Sadine vive no Brasil há seis anos. Mudou-se para o país para ficar perto do marido e de outros parentes. Entretanto, a adaptação foi complicada:
— Não me sentia bem, não sei por qual razão. Mas, com o tempo, foi ficando mais complicado.
A saída veio dos tecidos que a mãe lhe enviava da África. Sadine começou confeccionando turbantes, que logo fizeram sucesso. Depois, partiu para as roupas.
— Começou como uma brincadeira, para ajudar com a depressão. Me distraia trabalhando nos tecidos que minha mãe enviava — recorda a socióloga.
Desfile inspirado na moda africana
Atualmente, Sadine tem costureiras para auxiliar na confecção das roupas, que são masculinas e femininas. Nos turbantes, entretanto, ela não abre mão de ser a única responsável pela criação e montagem. No evento realizado neste domingo, houve um desfile com modelos vestindo as roupas da Afroberdiana, nome da marca, que significa uma mistura das origens de Sadine:
— O 'afro' vem de África e o 'berdiana' de cabo-verdiana.