Especialista em perícia criminal ambiental, com duas décadas de atuação no Instituto-Geral de Perícias (IGP), a bióloga Cristina Barazetti Barbieri integra o time de profissionais que ajuda a elucidar a tragédia de Brumadinho (MG). Supervisora técnica do IGP, ela foi até o epicentro da catástrofe, em março deste ano, colaborar com a Polícia Federal (PF) na investigação do rompimento da barragem da Vale, em 25 de janeiro.
Nesta sexta-feira (7), a perita será homenageada pela Defesa Civil do Estado, em cerimônia marcada para as 14h, no Palácio Piratini, pelos serviços prestados em Minas Gerais. Também receberão medalhas cinco bombeiros e quatro cães que ajudaram nas buscas por vítimas.
No caso de Cristina, o convite para ir ao município devastado partiu da PF, em razão da qualificação técnica da servidora estadual. Em sua tese de Doutorado, defendida em 2015 na Universidade de São Paulo (USP), a bióloga propôs uma nova metodologia para caracterizar crimes de poluição ambiental. Agora, o estudo pode contribuir para o esclarecimento o desastre mineiro, que, até quarta-feira (5), contabilizava 246 mortos e 24 desaparecidos.
Ao lado de peritos da PF e de especialistas das universidades de Brasília (UnB) e federal de Minas Gerais (UFMG), Cristina fez o reconhecimento da área e ajudou a definir pontos de coleta de material, a avaliar análises químicas já realizadas e a colher mais elementos para exame.
— Fizemos mais de 50 coletas, por terra e de helicóptero. Coletamos amostras de água do Rio Paraopeba (que foi atingido pelos rejeitos), de sedimentos, do solo e de resíduos. O objetivo é caracterizar a fonte da poluição e quantificar a contaminação do curso d'água para verificar se houve crime — relata Cristina.
Análises de monitoramento realizadas pela Vale já revelaram a presença de altos níveis de metais pesados (como ferro, níquel, mercúrio e cádmio). A investigação da PF prossegue, e os resultados do trabalho da equipe de Cristina – mais aprofundado e detalhado – ainda são aguardados.
A supervisora do IGP passou 10 dias em Minas, dos quais cinco na área afetada, com jornadas que chegaram a 15 horas diárias. Viu de perto o desespero de famílias dizimadas e testemunhou a localização de corpos. Aprendeu lições que, segundo ela, podem ser aplicadas no Estado.
— Foi uma das experiências profissionais mais gratificantes da minha vida. Percebi o quanto é importante o trabalho em equipe e como deve ser a articulação e a logística para que as coisas funcionem. Acredito que isso poderia ser incorporado aos nossos treinamentos, à formação na área da Segurança Pública — conclui.