A engenheira Ana Lúcia Moreira Yoda, da empresa Tractebel Engineering, que assinou laudos de estabilidade da barragem de Brumadinho de 2017 a junho de 2018, disse nesta quarta-feira (3), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, que investiga o rompimento da Barragem de Brumadinho (MG), que, enquanto atuou na mina, não havia nenhum indicativo de risco iminente de rompimento da estrutura. A tragédia matou ao menos 217 pessoas e outras 87 seguem desaparecidas.
Ana Lúcia crescentou que, à época, os indicadores estavam "dentro das leituras históricas". Ela esclareceu que, após uma reclassificação pela Tractebel do fator de segurança da barragem, em junho de 2018, o gestor da Vale, responsável pelo contrato da Mina de Brumadinho, Washington Pirete, achou melhor deixar a análise sob a responsabilidade da empresa alemã Tüv Süd, que atestou por último a estabilidade da estrutura na barragem que se rompeu.
Ainda segundo Ana Lúcia, a justificativa para a troca de empresas dada pelo gestor foi de que a alemã teria estrutura melhor para avaliar a barragem.
— A Tractebel decidiu não trabalhar mais com declarações de segurança de estruturas de barragens — afirmou aos senadores.
Sobre o que teria causado o rompimento da estrutura em Brumadinho, a engenheira disse que não sabe responder.
— Muito difícil (saber o que aconteceu). A coisa que está mais perturbando a comunidade técnica é essa pergunta. Eu não saberia dizer com os elementos que eu tenho. A gente tem tentado estudar, mas eu não saberia dizer, tenho medo de ser leviana— concluiu.
Vale
Outro técnico ouvido hoje pela CPI do Senado foi o gerente de Geotecnia Corporativa da Vale, Alexandre Campanha. Apesar de resguardado por habeas corpus, concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ele decidiu responder a todas as perguntas.
Campanha se defendeu das acusações de ter coagido engenheiros da Tüv Süd a atestar o laudo de estabilidade da barragem.
— Nunca pressionei o senhor Makoto (Namba) e nenhum funcionário da Tüv Süd — disse.
O gerente citou trechos de vários depoimentos à Polícia Federal dos engenheiros que atestaram a segurança da barragem e enfatizou o fato deles terem dito reiteradas vezes que o laudo foi dado "com base em critérios técnicos".
Habeas Corpus
Amparados por habeas corpus concedidos na terça-feira (2) pela ministra Rosa Weber, do STF, os engenheiros André Jum Yassuda e Makoto Namba ficaram calados durante a sessão da CPI.
Ambos são responsáveis pelo laudo de estabilidade da estrutura da barragem da Mina do Córrego do Feijão, que se rompeu no dia 25 de janeiro. A presidente da CPI, senadora Rose de Freitas (Podemos-ES), disse que vai recorrer da decisão para que os engenheiros voltem à CPI.