BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Interrogado durante mais de três horas por senadores que integram a comissão parlamentar de inquérito criada para investigar as causas da tragédia de Brumadinho (MG), o presidente afastado da Vale, Fabio Schvartsman, não trouxe novidades e apenas reiterou que desconhecia os riscos de barragem.
"Jamais foi informado a esta diretoria qualquer problema com a barragem de Brumadinho. A informação é que todas as barragens se encontravam em perfeito estado. No caso de Brumadinho, posso afirmar categoricamente que jamais chegou ao meu conhecimento nenhuma denúncia relatando risco iminente de rompimento de barragens. Ao contrário, todos os relatórios enviados à diretoria e ao conselho de administração indicavam estabilidade das barragens", disse Schvartsman sobre o rompimento do reservatório, que matou mais de 200 pessoas e deixou mais de 100 desaparecidos.
O presidente afastado foi o primeiro convocado pela CPI de Brumadinho. Além de responder a perguntas, Schvartsman ouviu provocações de senadores. Um deles chegou a sugerir que o ex-CEO cortasse a própria língua.
"Não fui conivente com coisa nenhuma", disse.
Ele disse que não é possível ainda apontar o que foi aconteceu e afirmou haver investigações em curso, mas levantou duas hipóteses: ter ocorrido algo que não estava previsto, fora dos itens monitorados ou leituras de informações que não foram levadas a sério.
"Se existem responsáveis, se havia informações e que não foram levadas a sério, que se descubra o que aconteceu e estas pessoas sejam punidas", declarou.
Schvartsman foi confrontado com declarações que havia dado, como quando falou que a Vale não poderia ser condenada. Ele disse ter sido infeliz na escolha das palavras e se retratou. "Não só acho que a Vale pode ser condenada, como deve ser condenada quando for caracterizada a sua culpa", afirmou.
O presidente afastado também tentou explicar porque não afastou o ex-diretor Peter Poppinga. Poppinga era diretor da área de Ferrosos, sob a qual está a mina de Brumadinho. Ele é também réu no inquérito que investiga o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em 2015 -o executivo ocupava vaga no conselho de administração da empresa.
"E eu entendi que a avaliação que o conselho fazia da presença dele era de que ele é importante pelo seu conhecimento técnico e da qualidade do trabalho que ele executava", afirmou.
Senadores indagaram Schvartsman sobre as doações de R$ 100 mil às famílias das vítimas e questionaram quanto ele recebia como presidente. Ele se recusou a responder em público.
Os senadores se mostraram bastante insatisfeitos com as respostas de Schvartsman, que consideraram evasivas.
"Ele domina o negócio dele e vem nos dizer que não sabe, que não teve acesso a documentação. Ao nosso ver, a empresa está montando uma grande estratégia para não dar publicidade no que aconteceu seja para os investidores estrangeiros, seja para o país. Eles querem levar para a Justiça, fazer com que os processos se arrastem no Judiciário brasileiro da mesma forma que foi com Mariana", disse o relator da CPI, senador Carlos Viana (PSD-MG).
Segundo o relator, Schvartsman será convocado novamente na comissão.
A CPI decidiu que todos os próximos convocados terão de ir ao colegiado como testemunhas, para que não possam mentir.
"Hoje ele não quis dar nomes. Como ele faz isso e não temos como obrigar, agora invertemos o processo para testemunhar. Todos os convocados serão, a partir de agora, testemunhas, portanto, não podem mentir. Podem permanecer em silêncio, mas podem ser presos", disse a senadora Rose de Freitas (PODE-ES), presidente do colegiado.
A comissão já aprovou a convocação de auditores da empresa alemã Tüv Süd, que atestou a estabilidade da barragem, de funcionários da Vale. Na próxima quinta-feira (4), está prevista uma acareação entre funcionários da empresa e da belga Tractebel.
No dia 15 de março, Schvartsman e Poppinga prestaram depoimento à Polícia Federal. O inquérito deve ser finalizado nos próximos dias.
Os dois entregaram seus passaportes à Polícia Federal, apesar de não ter decisão judicial que determinasse a entrega.
A força-tarefa que investiga o caso diz que os responsáveis pela segurança pressionaram a empresa alemã Tüv Süd a atestar a estabilidade da barragem.
Antes, segundo as investigações, teriam dispensado a belga Tractebel, que se recusara a emitir a declaração que certifica a segurança da estrutura.