Com tempo firme desde sábado (19) na Fronteira Oeste, os rios da região tiveram interrompida uma sequência de alta nos seus níveis. Porém, não basta que as águas parem de subir para normalizar a situação nas cidades atingidas. Um dos temores da Defesa Civil é de que o Rio Uruguai volte a ter elevação, apesar do sol que chegou à região neste domingo (20). As águas represadas em cidades como Rosário do Sul, Alegrete, Livramento e Dom Pedrito deslocam-se lentamente para Uruguaiana, segundo o coordenador municipal da Defesa Civil na cidade, Paulo Rosa Woultheres.
Nova avaliação será feita no final da tarde deste domingo pelas regionais da Defesa Civil. Conforme o comportamento dos rios, poderá ser estabelecido um cronograma para volta das famílias desabrigadas ou desalojadas. De sábado para domingo, conforme cálculo da Defesa Civil, o número de desabrigados e desalojados caiu de 7.496 para 6.548.
Os moradores estão apreensivos com a indefinição sobre o curso da água que afetou 2,4 mil imóveis no dia 9 de janeiro, quando um vendaval foi registrado em Uruguaiana. Vinte mil pontos ficaram mais de cinco dias sem luz. Antônio Ferreira da Silva, 60 anos, dorme em um quarto emprestado por um vizinho, que vive poucos metros da margem do alagamento, mas que teve mais sorte do que ele. A casa de Ceará, como Silva é conhecido na vila de pescadores, enfrenta sua quarta enxurrada.
– Eu vim para Uruguaiana atrás de emprego. Há sete anos, enfrento isso. Nas duas primeiras enchentes, eles (Defesa Civil) empurraram minha casa pra cima, na rua, mas agora ela já tá toda podre – afirma, com os tênis afundados no barro, na precária viela, intransitável até sua casa de madeira estilo meia-água.
Aposentado com um salário mínimo, o cearense que deixou Boa Viagem em 1976 para tentar a vida como vendedor de panelas e utensílios domésticos tenta reforço no orçamento com artesanato. Mas não tem tido sucesso na venda de pulseiras, cintos e carteiras de couro:
– O problema é que é todo mundo pobre aqui também, então, não tá dando é nada o artesanato.
A Defesa Civil instalou banheiros químicos nas proximidades das áreas mais críticas, para os que estão acampados nas calçadas. Em pouco mais de meia hora que Woutheres acompanhou a reportagem, identificado pelo colete laranja da Defesa Civil, foi abordado por três moradores pedindo ajuda com lonas ou no transporte de móveis de parentes que querem retirar os pertences das áreas de risco.
– Meu filho está com a casa com água no pátio lá no Cabo Quevedo. Eu vou trazer ele pra morar comigo – conta a faxineira Gleide Maria Freitas, 57 anos.
O bairro em que seu filho vive é um dos três mais comprometidos com as cheias, ao lado do Mascarenhas de Moraes, onde a família vai se instalar. Outro local muito afetado é o bairro Santo Antônio. Com renda mensal variável, Gleide reclama do valor do aluguel:
– Eu pago R$ 500 em um apartamento, mas é pequeno. Agora, vou ter que alugar uma casa, que custa 100 reais a mais, para trazer meu filho e a nora. Difícil para nós duas, que fazemos faxina.
A prefeitura de Uruguaiana deve receber do governo do Estado R$ 500 mil em horas/máquina, como é chamado o sistema de contratação de mão de obra de empresas que prestam serviços pesados com retroescavadeiras, patrolas e caminhões. A intenção é remover definitivamente as famílias das áreas ribeirinhas que têm alagamentos quase todos os verões. Segundo o Executivo, 217 casas estão sendo construídas nas proximidades da BR-472, com recursos do governo federal, encaminhados ao município após a enchente de 2017. A previsão é de que até o fim deste ano as moradias sejam entregues, segundo a prefeitura.