A chuva que castiga a metade sul do Estado, especialmente a Fronteira Oeste e Região da Campanha, já começa a trazer prejuízos significativos também para o setor agrícola, em especial para as lavouras de arroz.
De acordo com levantamento divulgado nesta terça-feira (15) pela Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), a produção gaúcha do cereal, que representa 70% do que é colhido no país, deve encolher de 8,2 milhões de toneladas, em 2018, para 7,3 milhões de toneladas. Uma reunião de entidades do setor nesta quarta, em Alegrete, deve anunciar o balanço das perdas.
O presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, explica que os números previstos para este ano são próximos da safra 2015/2016, quando enchentes também atingiram o Rio Grande do Sul. Em confirmada essa redução na colheita, a projeção é de que o faturamento caia 11%, o que representa R$ 720 milhões a menos do que na safra anterior. A situação preocupa o secretário de Agricultura e Pecuária de Alegrete, Daniel Gindri:
— Somos o quarto maior produtor de arroz do Estado, e mais de 60% do PIB do município está relacionado à produção agropecuária, e por isso estamos muito apreensivos.
Impactos na produção de leite e na soja
Além das lavouras de arroz, Gindri explica que uma análise preliminar realizada pela secretaria aponta também para um impacto em outros setores, como o leite, cujo prejuízo está próximo aos R$ 150 mil (o que equivalente a 150 mil litros de leite) e a produção de soja, que teve pelo menos dois mil hectares, ou cerca de 5% de sua área, afetada diretamente com as enchentes e enxurradas.
— Esta área deve ser ainda maior se contabilizarmos o excesso de umidade e a pouca radiação solar que atingem também a produtividade em outras localidades, principalmente nas partes altas — explica.
De acordo com levantamento da Emater, a região de Santa Maria contabiliza 2,5 mil hectares de plantação de soja afetados, o que representa perda de pelo menos 2% na produção. A entidade afirma, entretanto, que é preciso esperar os níveis da água baixarem para que tenha estimativas mais precisas sobre os prejuízos em todos os setores.
Enquanto o governo e entidades calculam os prejuízos, produtores têm buscado alternativas para contornar as dificuldades que o excesso de chuva traz para o Estado. Paulo Rodrigues, um dos líderes no assentamento fundiário Unidos pela Terra, em Alegrete, afirma que desde início da enchente, há seis dias, ele e seus cinco vizinhos já descartaram 2,4 mil litros de leite.
Foram dois problemas: primeiro, faltou luz e não havia como refrigerar o produto, para conservá-lo. Depois, o acesso: com estradas alagadas e enlameadas, os caminhões de recolhimento não chegam. Para evitar que as vacas fiquem doentes por falta de ordenha, ele retira o leite delas e depois, o que não é destinado ao gado e às galinhas, é despejado fora.
Já o veterinário e pecuarista Renan Roggia, há seis dias, repete uma busca. Pega o cavalo baio e percorre pacientemente cada canto dos seus 180 hectares de campo em Alegrete, nas proximidades do rio Caverá. É que ele perdeu para as águas um rebanho inteiro, em dois dias da tempestade que assolou o município, semana passada.
— O rio, que não é muito grande e nem profundo, virou leão com a chuvarada e arrastou 60 reses, sendo 40 adultas e o resto, terneiros – descreve Renan.
Os animais eram das raças Brafford, Angus, Zebu e Hereford. Todos os animais têm brincos e marcação. A cena foi vista por empregados da fazenda, situada a 45 quilômetros do centro de Alegrete. Renan guarda as últimas fotos do rebanho, feitas no mesmo dia da enxurrada. Na busca, encontrou apenas duas vacas vivas. Acredita que todas as outras morreram. Prejuízo de, no mínimo, R$ 130 mil.
“Estou apavorado”, desabafa produtor
O sonho de uma bela colheita de arroz, acalentado há meses pelo produtor rural Artur Pacheco, também foi literalmente por água abaixo. A plantação de 78 hectares que ele mantém próxima ao rio Caverá, em Alegrete, foi atingida por chuvarada entre quarta e quinta-feira da semana passada. Onde existia a lavoura, agora se formou um gigantesco açude, com quilômetros de extensão. Nem é possível ver mais a maior parte dos pés de arroz. Está tudo submerso.
— Perdi 95% do que foi plantado. E tenho outros 350 hectares próximos ao rio Ibicuí, que também está com nível crescente. Estou apavorado — desabafa Pacheco.
Tão ruim quanto isso é que as estradas que levam à lavoura, dentro da granja, foram destruídas. As taipas foram erodidas e os bueiros agora estão a céu aberto, despejando água por canos que deveriam estar enterrados.
— Já perdi para a seca, para o granizo, mas essa foi a pior peça que a natureza me pregou — lamenta.